minha alma tem pernas e joelhos ralados.
já chorou o remédio ardido no chão.
perdeu brilho e saturação
enquanto a fé não estendia a mão
para dizer que aquilo também passaria.
peguei minha alma e algumas cervejas
e troquei uma idéia com as árvores da praça.
elas questionaram meus arranhões.
disse que ser humano é ser machucado.
elas riram tanto que choraram folhas.
abri uma latinha e brindei com o céu.
seu azul não bebe.
suas nuvens bebem demais e vomitam chuva.
a minha alma deu uma gargalhada
e eu peguei outra lata
só pra não perder o vício.
sabe, tava foda.
não quis muitas vezes
essa coisa de vida.
ou melhor,
o jogo que vestiram nela.
sério, só gosto da vida
quando tiro suas roupas.
quando chupo sua pele e pelos.
quando durmo em seus seios.
todo resto é hipocrisia.
eu só quero que você saiba
que melhor é possível.
se a sua alma ralou os joelhos
ou se caiu numa fossa
ou se a merda toda tá pesada demais
segura firme.
um momento não é tudo, tudo são momentos.
seus piores abismos, um dia,
podem se tornar suas melhores piadas.
é como caipirinha;
o doce saturado do açúcar
com o amargo do limão e da cachaça.
é o contraste que dá graça.
levantei e fui embora pra casa
rir das minhas desgraças passadas.
vamos rir um pouco, vai.
só mais um pouco
enquanto temos boca
e uma alma embriagada.