sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

MELHOR É POSSÍVEL

minha alma tem pernas e joelhos ralados.
já chorou o remédio ardido no chão.
perdeu brilho e saturação
enquanto a fé não estendia a mão
para dizer que aquilo também passaria.

peguei minha alma e algumas cervejas
e troquei uma idéia com as árvores da praça.
elas questionaram meus arranhões.
disse que ser humano é ser machucado.
elas riram tanto que choraram folhas.

abri uma latinha e brindei com o céu.
seu azul não bebe.
suas nuvens bebem demais e vomitam chuva.

a minha alma deu uma gargalhada
e eu peguei outra lata
só pra não perder o vício.

sabe, tava foda.
não quis muitas vezes
essa coisa de vida.
ou melhor,
o jogo que vestiram nela.
sério, só gosto da vida
quando tiro suas roupas.
quando chupo sua pele e pelos.
quando durmo em seus seios.
todo resto é hipocrisia.

eu só quero que você saiba
que melhor é possível.
se a sua alma ralou os joelhos
ou se caiu numa fossa
ou se a merda toda tá pesada demais
segura firme.
um momento não é tudo, tudo são momentos.
seus piores abismos, um dia,
podem se tornar suas melhores piadas.

é como caipirinha;
o doce saturado do açúcar 
com o amargo do limão e da cachaça.
é o contraste que dá graça.

levantei e fui embora pra casa
rir das minhas desgraças passadas.
vamos rir um pouco, vai.
só mais um pouco
enquanto temos boca
e uma alma embriagada.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

um poema mal escrito

eu posso ser seu melhor amigo
pra vida inteira.
é só você não ser
uma pessoa cuzona.

é, eu posso brilhar e
fazer você brilhar tão forte 
que na madrugada
vão dizer que é dia.

sabe, não se esqueça.
não se esqueça.
não se esqueça de você
e de tudo o que você já fez
e tudo o que você já passou.
as bocas que você beijou.
as feridas que você curou.
aquilo que você desejou
e que no final alguém te trouxe
ou até mesmo
você se trouxe.

a gente tá vivo, porra!
a gente tá VIVO, PORRA!

por que a gente não vive
pelo menos uma vez?
por que a gente não deixa
de fazer sentido
pelo menos uma vez?

esse é o melhor poema que escrevi
porque eu já não estou mais nem aí
pra que entendam 
as minhas cores.

eu só quero é te ver feliz
nesse corpo que cê tem
tão maravilhoso
que te faz ser
quem você é.

eu te amo
pelo menos por hoje,
pelo menos agora
eu te amo pra caralho!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

LUZES

tô bem, tô bem.
meu sorriso preguiçoso
não está ajudando muito
e a fragilidade da voz
suspira derrota.
eu sei e sinto muito por isso.

às vezes parecer bem
dá mais trabalho
do que ficar bem.

caminhos alinhados impedem a passagem
das lágrimas.
não tenho o direito.
ficou tudo manso
depois da tempestade.
sou um bicho pelado
dançando nos escombros.

o ano vai acabar
e espero que o próximo
não acabe comigo.

achei que ficaria pior
mas descobri
que superfaturam
alguns sentimentos
ou o caminho até eles.

luzes novas brincando de piscar
se enrocando nas minhas risadas.
elas apagam e eu também
elas acendem e eu...

tô bem. 
é sério.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

SHOT DE POESIA 20

devolva-me aquele tempo
que não gastei comigo.
aquela parte que não me cabia
mas forcei meus buracos
pra caber.
aquele dia que eu disse
que não tinha nada pra fazer
mas eu tinha tudo,
todo o resto da minha vida,
a coleira da minha felicidade
e mesmo assim
botei a coleira em mim
e uivei pros seus problemas
a madrugada inteira.

SHOT DE POESIA 19

podemos melhorar o que somos.
mudar não.
posso ser um otário melhor.
um otário bem-sucedido
um otário mais saudável.
mas nunca vou deixar de ser otário.

de você
você não foge.

SHOT DE POESIA 18

beba a seiva amarga da vida
fazendo careta ou batendo na mesa.
recuse a felicidade obrigatória.
jogue fora essa história de plástico.
vire o copo.
vomite.
tente de novo até a última gota
rindo ou chorando com o átomo do âmago.

e então olhe pro espelho:
aí está alguém de verdade.

SHOT DE POESIA 17

um espetáculo:
o pôr do sol,
a infinita beleza do horizonte,
a pequenez humana ante tudo,
ouvidos serenos flertando a brisa

e você.

TRANSIÇÃO

o tempo nos caminha
nos passeia,
decora nossos corpos com rugas
e cicatrizes.
talha nossos corações,
um filete para cada despedida.

ninguém nunca é o mesmo.
até as estátuas queimam.
símbolos caem.
e eu raspo meus cachos
buscando as respostas
que já tenho em mim.

jogo fora cabelo morto e virgem
numa sacola de reciclagem.
dou um nó duplo
e sinto o vento na cabeça
como há muito tempo não sentia.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

INSANO NO PARAÍSO

sou doido por todas as crises invisíveis
e indivisíveis de mim

sou amante de amor próprio
e hater autoconsciente

estou ciente 
que todos
um dia
irão viver.

sou doido pela gente
doido
pela vida que nos habita

uuuhhhlll

sou doido o suficiente pra não estar sóbrio.
sobriedade fica em segundo plano
enquanto 
amo ser insano 
e consequentemente
humano. 

sou amante do dia
e parte da noite.
faço a dança infinda
do bobo da corte
na peça repetida das demasias
no trágico papel da alegria
instantânea.

sou doido pelas crises de riso
e por achar que tudo isso
mesmo com seu tamanho ínfimo
chega a ser mais divino
do que qualquer outro paraíso.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

SHOT DE POESIA #16

só vai ficar
quem tem que ficar
e a culpa é das estrelas.

SHOT DE POESIA #15

até pensei em me importar
mas resolvi esperar
o dia seguinte.

SHOT DE POESIA #14

pode me quebrar;
pego meus cacos
e faço o mosaico
mais bonito de todos.

SHOT DE POESIA #13

disse que felicidade
chama a vontade
do momento repetir.

a refeição mais saborosa
é a que já começa
não querendo o seu fim.

SHOT DE POESIA #12

algumas pessoas
só amamos
quando não estão

SHOT DE POESIA #11

tá tão quente
que eu até agradeço
pela sua frieza.

RESSACA

tô numa vontade de vomitar
as palavras indigestas
num gesto forte de rebeldia

a luz escapa pelas frestas
da janela do meu quarto
reanimando o corpo farto
de tragos solitários.

agora fico com a ressaca
e a dança macabra das paredes.
agora fico na minha casa
bebendo o que não mata a sede.

eu sei, eu quis
é que a garrafa sempre diz
aquilo que ninguém mais fala.

SHOT DE POESIA #10

você quis ir embora tão rápido
que a imagem da gente
borrou.

SHOT DE POESIA #9

só corto meu cabelo
quando alguém que amo
sai da minha vida.

tô careca de despedidas.

FELIZ?

eu queria compartilhar felicidade
mas só havia a taça de vinho
e as traças
que faziam buracos
no tecido do tempo.

deixei tantos amigos para trás
que tô até mais leve.
talvez porque eu esteja
mais vazio.

é tão mais fácil ser você
quando só tem você
nas paredes que te cercam
nas ruas que te costuram
na melancolia de prédios desiludidos.

eu queria compartilhar um pouco
disso tudo
que tenho preguiça
de explicar.

mas estão ocupados demais.
todos são, e pra sempre serão
ocupados demais.

eu também sou, também estou.
tenho que decidir todo dia
se mudo minha vida
se estou feliz.
se estou... feliz?

bem, eu queria compartilhar felicidade.
mas só havia o resto da garrafa
e as traças.
e o meu tempo
cheio de buracos...

SHOT DE POESIA #8

hoje não tem poesia.

apenas a chuva
a adega
e o barulho
dos pensamentos.

SHOT DE POESIA #7

quero um sorriso sábio
como dessa gente que entende
os espinhos da vida
e mesmo assim escolhe
amar suas flores

SHOT DE POESIA #6

nada é mais belo 
do que aquilo que é
apenas por ser.

SHOT DE POESIA #5

tô aqui pagando pela minha vida
para algo que nem sabe
se estou vivo.

obrigado à tudo
que me viu vivendo
e quis que eu
continuasse.

cada centavo conta. 

VOU DANÇAR COMIGO

a gente esquece
que somos células
no corpo da vida.

nos separamos do mundo.
nos importamos com tudo
menos com o que importa.

deixamos o dia passar
sem um elogio.
olhos vendados de pressa
boca calada de dívidas.

não lembro como se dança.
poucos sabem os passos.
e raros são os que entendem
que não existe
passo certo ou errado
na canção de si mesmo.

vou dançar comigo
e você dance consigo
ou com quer quiser
acompanhar seu ritmo.
não dá mais pra ficar parado
envergonhado enjaulado
no papel que nos deram.

a gente esquece
que estamos vivos
porque estamos ocupados
sobrevivendo.

um dia a gente lembra.
quem sabe na folga?
é, um dia a gente lembra...

SHOT DE POESIA #4

um milhão de coisas inúteis
competindo espaço
com a divina importância
do ócio.


hoje 
não me distraio 
de você.

UM BRINDE AOS QUE DEIXAM SAUDADES

o peito pesado
levanta da cama
encharcado de saudade.

a cabeça lembra
do último olhar
e a boca balbucia
uma despedida não dita
enquanto os dedos
invejam o tempo;

o único que pode te tocar.

EM QUALQUER LUGAR

a cidade conhece partes minhas.
algumas calçadas conhecem
meus rolos,
alguns bares
minhas despedidas.

muros ficaram manchados de mim.
pele morta na poeira da avenida.
pressa nas veias subterrâneas.

becos repetem meus gritos.
lixeiras lêem meus escritos.
postes holofotes evidenciam
minhas máscaras
e o papel de trouxa
na peça do acaso.

não sei onde marco
para me encontrar.
talvez me encontre
em qualquer lugar.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

A GENTE VAI SE DAR BEM

sabe, gosto de você.
vou te aproveitar 
como um pôr do sol.
cê tem uns parafusos soltos
mas mesmo assim você se sustenta.
e sua mente é linda.
pelo menos por fora
ela é maravilhosa...

vai rolar umas coisas esquisitas
nos nossos ciclos
porque estamos aprendendo.
é, estamos entendendo 
como se caminha
pelas nossas estradas.
o importante é continuar
amando o calor que faz a gente suar
e a noite que nos deixa lunáticos
e o pulso
o pulso do tempo
e as veias enrijecidas da alma
buscando o abraço do cosmos.

por isso que digo
que a gente tem mais é que aproveitar
porque a gente esquece.
a gente sempre esquece.

é por isso que se você me espiar
pelas minhas janelas trancadas
vai me ver dançando 
de pouca roupa e chapéu.
eu e minhas sombras
eu e a minha luz.

é, eu gosto de você.
acho que a gente
vai se dar bem.

é, a gente vai ficar bem.

domingo, 12 de novembro de 2023

AS PERDAS QUE SOU

eu perdi minha melhor amiga.
o meu melhor amigo
disse que eu superaria.
então perdi meu melhor amigo.
e meu outro melhor amigo.
o amigo que eu nem conhecia.
e os amigos dele.
as amigas que fiz.
minhas melhores amigas.
perdi todas.
perdi a mãe delas
e o pai delas.
perdi as melhores famílias.
perdi as piores.
perdi a gente conhecida.
os colegas de trabalho.
as colegas de estudo.
perdi meus companheiros
perdi o companheirismo.
perdi as confidentes
as que me puxaram do abismo.
perdi tudo quanto era tipo de gente.
uma amiga é portuguesa agora,
a outra tá morta.
um amigo ressucitou
e eu não fui visitar.
os outros envelheceram
como eu devia envelhecer.
outros envelheceram
como eu queria.

perdi meus amigos
e eles me perderam.
alguns me perderam
mais do que outros.

todo mundo se perde nessa vida.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

VOCÊ JÁ É O SUFICIENTE (ver. 2.0)

a voz na sua cabeça
vai dizer que não.

às vezes o que tá aí
entre o cérebro e a alma
não é seu
nem foi plantado 
pelas suas mãos.
é que no jardim da mente
é difícil apontar
os donos das flores
e das pragas.

você vai se cobrar.
é normal.
vai dizer que a vida é uma soma
que zera no final.
o importante é não esquecer
do seu valor único e infinito
como um sorriso que acontece
só uma vez no universo.

deixemos disso.
não grudemos mais coisas na gente
nos nossos nomes
nas nossas vidas
como se mais fosse sinônimo
de melhor.

você já é o suficiente.
vá viver sua vida
(o que resta dela). 

o que não deu, não deu.
um dia a gente se encaixa
no buraco certo.
ou então flutuaremos por aí
como um planeta ou
como o próprio sol ou, quem sabe,
como tudo o que existe

suficientemente
apenas sendo.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

QUADRADO CONFORTÁVEL

carinhosamente idiota
sigo não desistindo e
procrastinando afetos

fico no quadrado
ignorando o lado
que não conforta

tudo tão bem organizado
arrumando numa desordem
o motivo para continuar

estou chato demais para mudar
e acho que meus moldes endure
ceram ou talvez seja uma ques
tão de perspectiva. será poss
ível escapar de onde eu mesmo
me prendo?

SHOT DE POESIA #4

soltamos as mãos e
rabiscamos o coração
um do outro
com os cacos das palavras 
transparentes demais.

agora só resta
marcar uma consulta
com o tempo.

VELHO DESENCANTO (SHOT DE POESIA #3)

um sorriso verdadeiro
mofando na gaveta.
já não tenho paciência.
histórias repetidas
se cruzam nas mesmas ruas
se devoram nos mesmos bares.

a magia agora só existe em brasa.

SHOT DE POESIA #2

queria ser artista
mas só sabia fazer arte.

SHOT DE POESIA #1

laranja sabor fim de tarde
e eu parado
esperando já nem sei
mais o quê.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

EU SÓ SEI SEGUIR EM FRENTE

mesmo no escuro de mim mesmo
apalpo as paredes da vida
porque sei que há um céu azul
em cima de todo dia nublado.

erro e troco feridas 
até quando não quero
até quando não querem.
seu contador Geiger canta quando me vê.
fazer o quê?

eu só sei seguir em frente.

e os eclipses continuarão acontecendo
a gente estando lá para vê-los
ou não.

enquanto construo faíscas num incêndio
os outros pulam fogueira
porque suas felicidades
são suas responsabilidades.

mato uma garrafa e tento esquecer
da gente
disso tudo.
mesmo no escuro do futuro
me apego em algo que já estava aqui
em mim
antes mesmo de eu vir.

tomo um banho gelado.
suturo meus machucados.
eu só sei seguir em frente.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

FLORES NO LIXO

uma rosa branca abandonada
morrendo num copo d'água.
já não sei quantas pessoas 
me esqueceram numa esquina.

uma rosa branca se suja de tinta
pra ser vermelha.
pra ser aceita.
já não sei quantos galões
minha mente bebeu.

uma rosa branca e pálida
amarelando como eu.
os dois se apertam no mundo
pés e raízes buscando o fundo.
estamos velhos demais
para ter medo de nadar.

domingo, 20 de agosto de 2023

NOSSO ESTADO NATURAL



amor é a menor distância entre dois pontos.
é o sono de um gato ao sol.
o jeito que cobre o rosto
quando fazemos barulho.

amor é sorrir numa segunda nublada.
limpar a casa sem perceber.
escrever poesia
com a voz da cabeça
na areia dos pensamentos.

amor é ter raiva dessa troca vulnerável.
sair exposto como se o corpo nu
ainda cobrisse certa vergonha
de sentir.

mas eu não sinto mais vergonha.
guardei a timidez de amar
junto à outras coisas tortas e adolescentes.
e então amei o dia, amei meu mundo.
amor é o estado mais natural de tudo.

EU ME GARANTO (VAMOS NOS VIVER)

não sou o que você pensa de mim.
qualquer coisa te envio de volta
sua aceitação.
eu me garanto.
 
não me vista suas ilusões.
tenho meu mundo pra conquistar.
não se faça de pedra
no meu caminho.
não é do seu jeito que me sinto.

não sou o que você espera.

sou a quebra de expectativas.
sou decepção pra quem deseja
algo além de mim.
sou o fim da frase, sou o depois
sou o enfim.

não sou a prova da sua concepção.
não sou outro exemplo de imersão
num lago raso.
eu faço e me desfaço 
profundamente
do que não me cabe
porque já tenho o que usar
nas outras noites
com as outras pessoas.

tenho meus problemas e não sou
mais um dos seus.
o que você possui de mim
é minha atenção
e apenas enquanto for interessante.
não espere por mais.
não sou nem
minhas próprias expectativas.

desejo apenas 
que a gente se viva.
bora?

OBRIGADO À MIM POR TUDO

agradeço 
às versões anteriores
que apesar das minhas dores
não pegaram minhas coisas
e fugiram de mim.
 
tenho apreço 
à construção dos meus valores
o processo é tortuoso
sentir na pele e mesmo assim
carregar por aí
um grande e remendado SIM.

eu sei que já falhei.
em terra de bêbado
quem tá sóbrio é rei.
eu não sou da realeza
mas até que me reino bem.

eu fiz o que pude
com as ferramentas que eu tinha
com as cartas que me foram dadas
com uma caneta estourada 
e entrelinhas.

não foi perfeito
mas não podia ser 
de outro jeito.
agora pode.
só agora posso.
agora que desenrosco
a corda dos meus pulsos
e pernas
e pescoço.

agradeço.
obrigado à mim
à teimosia humana
aos músculos que carregam
pesos intangíveis.

continuarei a me escrever
em versos suturados
e quem sabe ser louco o suficiente
pra dizer
que sou feliz.

TÔ AQUI PORQUE EU NÃO DESISTI (OUTRA PERSPECTIVA)

dias nublados
ainda são dias.
anotei isso na parede
do meu crânio.

tive de me arrastar por algumas
tempestades.
acho que quase ninguém viu 
minha dores, só meus machucados.

o que não mata, fere.
a força eu já tinha.
tá no modo de se ver a vida;
um raro presente mal embrulhado.

eu vivi o que tinha de viver
e talvez já não esteja mais aqui
quem eu queria que estivesse.
os caminhos bifurcam
e às vezes se cruzam
às vezes se esquecem.

tive de aprender a dizer adeus
mesmo o peito já sabendo soletrá-lo.
tive de parar e apreciar
o pequeno espetáculo 
dos detalhes semi-visíveis.
gostar do pouco
pra ser digno de muito.

hoje eu brindo com meus amigos.
achamos este lugar bem legal
onde o goró não é tão caro
e o atendimento até que presta.

eu te passaria o endereço
mas você não me encontraria.
você nem conseguiria me enxergar.
estou em outra perspectiva.

CANÇÃO DE CORPO NO SILENCIOSO

um jeito de amar no silêncio
gemer em volume baixo
e gozar no mudo.
 
não sabem
e a gente gosta assim;
sem que saibam.

faço força de propósito
desafiando sua garganta
e a voz que escapa
derrapa por seus lábios
e colide nas paredes.

tampo sua boca.
você lambe minha palma
chupa meu dedo.
o suor mistura nossos cheiros.

vista boa da sua bunda
tremendo e quicando
vestindo em vermelho pele 
a marca do aperto da minha mão.

se a gente pudesse
acordaríamos toda a cidade
e muitos se lembrariam
de seus orgãos
de suas intimidades
e dos amores que se perderam.
a gente perde a chance
algumas vezes
de mudar o mundo.

mordo seu ombro e
sussurro no seu ouvido
que assim tá bom
enquanto você bufa e se contorce.
sinto seu tesão nos pelos do meu braço
e em todas as palavras
que suspiro.
enfio minha cara na sua nuca
enquanto terminamos juntos
essa canção de corpo
 no silencioso.

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

OUTRA PERSPECTIVA DESSA MERDA TODA

olhe pra baixo
e vira outro caso
esse descaso
daquele idiota.

vire pro outro lado
e logo o amargo
grudado nos lábios e no peito
fica doce
e então sem gosto.

ela partiu e voltou
e partiu de novo.
adeus perdeu valor.
virou flor incolor.

bela tentativa
reaver algo que já foi enterrado.
nossas mãos ainda estão
sujas de terra.

hoje eu brindo com meus amigos.
achamos este lugar bem legal
onde o goró não é tão caro
e o atendimento até que presta.

eu te passaria o endereço
mas você não me encontraria.
você nem conseguiria me enxergar.
estou em outra perspectiva.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

INSANIDADE CELULAR




tô sentindo gosto de fim-de-mundo.
acho que vou perder minhas amizades
porque as reciclei demais.

eu achei que queria paz
mas você queimou as esperanças
acendendo um incensso sem cheiro.

eu fico em casa bebendo pensamentos.
o que diria
o que seria
o que faria.

tô sentindo cheiro de fim-de-mundo.
acho que acabou
isso tudo
que me acompanhou
até o fim, até o poço, até o fundo.

insanidade celular
deixei algo pra despertar
quando acordar
meus monstros.

e que se foda o que digam
me sigam os cansados
de agradar
e sufocar
seus sonhos. 

tá vindo a onda e ela é forte.
senti o choque e era sorte.
cicatrizes são um autógrafo da morte.

então o que resta é ter pressa
e aceitar as arestas.
correr a estrada cara.
quanto tempo se empresta?

insanidade celular
enlouqueci pra poder voar
quando juntar
os pontos.

e que se foda a magia.
a realidade agora é minha
de extravazar
e criar
os próprios contos.

insanidade celular
cada parte minha
pronta pra pirar
é só uma questão de se conectar
com o que perdemos.

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

TÁ TUDO BEM

nu mesmo.
sem roupa nem pele nem ossos.
nu de ver o cu da alma.
escutar o que a sombra tem pra cuspir
sem cerrar os punhos.

peladão
balançando
defeitos.

não tá tudo bem comigo.
faz tempo que não está.
não é bom te ver.
já quis que um de nós
não existisse.
enfia esse bom dia no rabo.

foda-se todo mundo.
essa é minha alquimia;
transformar tristeza em ira.

quem sabe uma hora
das cinzas agonizantes
transmutamos alegria?

tô nu mesmo.
expondo meu ridículo
ocupando com coragem.

tô invertendo minhas vozes.
vou falar do avesso.
escuridão recheada de luz.
por fora vestirei meu pior
enquanto minha mente
num baile de máscaras
goza em paz.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

QUEIMA DE ESTOQUE

até o estoque acabar
eu vou ficar vendendo
à garganta rachada
no meio de infinitos punhados
de gente isolada.

vendo meu tempo.
vendo meus sonhos.
vendo meus amores.
promoção aos erros.

vendo tudo isso acontecer
e só bebericando
a água benta
que vendem na TV.

até o estoque acabar
e meu estômago queimar
minhas lembranças do que eu era
contigo.
porque agora eu sou o quê?
dedos rastejando até
o próximo prazer?

vendo meu inútil
o que minha família não quis saber.
vendo as medalhas
que falhei em merecer.
eu vendo minhas falhas
preço justo
só porque é você.
mas se não fosse também
foda-se você.

até o estoque acabar.
queimando combustível alcoólico
ligando e esquentando no frio
de um espaço grande demais
pra caber um espírito em fios.

vendo, já sabe onde colar.
vivendo.
uma proposta difícil de negar.
até onde durar os estoques.
uma pilha de merda
que alguma loucura vai comprar.

MELANCOLICAMENTE ADULTO

quando suas contas são maiores
que seus bolsos
e seus passos não acompanham
seus pensamentos
e a velocidade da sua língua
é maior do que as palavras

isso é ser adulto.

quando as bebidas só anestesiam
e os encontros eternos são casuais
e o novo já não te anima

bem, isso é só melancolia mesmo.

TRÊS REAIS E TRINTA E TRÊS CENTAVOS

não tenho dinheiro pra ter
tantos amigos quanto você.

não tenho dinheiro pra ser
alguém tão amado quanto
todo mundo.

a falta de dinheiro eu queria
pegar e chamar pra sentar
do meu lado
(e não nos meus bancos)
só pra entender
esse fascínio por mim.

é, eu não posso te pagar essa rodada.
é isso o que quero dizer.

CORTEJO

cortejo a melancolia das minhas luzes fracas
lutando contra o escuro da noite
e o meu teclado sujo
velho e maculado
tão tocado que parece público.

cortejo os ensaios 
daquilo que nunca direi
mas que quero dizer.
e as encenações no palco da mente
todos os fins que não começarão.

cortejo você;
cortejo a gente.
cortejo o que fica depois de nós.
e você nem lê mais minhas mensagens.
agora eu recito o lixo
onde joguei minhas memórias.

ah, cortejo o vidro do copo
e o cristal da taça
e o pó da mesa
e a beleza
de ser 
o único louco
acordado depois
das três
no meio da semana.

e sim, eu deixo
meus dedos batucarem a impaciência
batucarem a indecência
batucarem cinzeiros cheios
de algo que nem lembro se fumei.

e sim, eu esqueço
que um dia eu pensei
só em você
e agora eu penso em você
e em todo o resto que deixei de lado.

cortejo as linhas vazias
inocentes
que eu sujo com a minha vida.

e cortejo o som
que faz a noite calada
numa rua de periferia
emaranhada entre asfaltos
e números trocados.

ah, se alguém estivesse aqui
além de mim
e eu mesmo...

quinta-feira, 20 de julho de 2023

SEQUÊNCIA DOS FATOS

se eu te dissesse
não em palavras
mas em gestos
o que marcou
aqui em mim
você sepá
fugiria
veloz
como
luz
.

UMA NOITE DE SUBTERFÚGIOS

carrego os escombros do meu dia
até a mesa
e meu amigo copo
abraça minha amiga bebida
enquanto os primeiros acordes da noite
ressoam improvisados pela esquina.

sim cada janela.
cada janela uma história.
quem não vou conhecer hoje
parece mais interessante
do que qualquer olhar 
que não encaixa com o meu.
mas quando tem
(e algumas vezes tem)
aquilo que desce a garganta
seca de poluição emocional
fica com um gostinho de deus.

já tô ecoando fora de mim.
já sou uma coisa só.
se perguntarem meu paradeiro
a resposta é a rua
e se perguntarem o que sou
digo que virei a noite.

não lembro do que disse.
não lembro de olhar o espelho.
não lembro da consciência.
mais veneno, mesa trinta e um.
preciso ir ao banheiro
encarar um azulejo
verdadeiro o suficiente
pra não me dizer 
o que diz minha mente.

e quando volto
já não entendo o mundo
e os corpos rebolam
e as bocas se encontram.

mordo ligeiramente meus lábios
enquanto minha alma esfaqueia
as paredes do meu
sistema nervoso
em busca da próxima adrenalina.

cadê aquele olhar
que encontrou o meu?

COMA ANTES QUE ESTRAGUE

mire nos órgãos vitais
daquilo que passa
ao invés de babar ovo
à permanência.
que seja fugaz
que seja intenso
que seja um big bang
de proporções incontáveis.
pode ser a última vez.
coma antes que estrague.
não guarde rancores.
não armazene pra depois.
esse já é o fim do mundo
começando todo dia.
você vai estourar, amor.
vai ter que remendar seu coração
com cuspe.
vai ter que revirar
a lixeira dos outros relacionamentos
em busca de migalhas
até encontrar a fonte.
eu digo A FONTE.
aquela que tava contigo
o tempo inteiro
e que não precisa
de malabarismos
pra se manter de pé.
quando estiver com o bucho
cheio de si mesmo
devorando o próprio rabo
como faz tudo que existe
e quando os gatos miarem
e quando você for traído
e quando você nem sabe mais
pra onde direcionar
suas piores armas
tente se ajoelhar
diante de uma árvore
e gorfar os porres ultrajantes
e sangrar as dores escondidas
e abraçar esse resto
que você chama 
de eu.
que seja visceral.
mire o holofote
pro seu palco e
saia do compasso.
erre maravilhosamente
sem uma borracha pra apagar.
rabisque com permanente.
mire no suco da vida.
perca a hora.
perca tempo.
perca repetidamente.
mire no último traço do velocímetro.
com todas as suas costuras
e todos os sentimentos reciclados
a cara suja 
o cabelo bagunçado
e o frio na barriga
o frio na espinha
o arrepio do instinto
o arrependimento das palavras.
mire alto
acima da cabeça
acima de todo esse lixo acumulado.
mire na vitalidade do acaso
e esqueça essa ideia
de que dá pra armazenar pro futuro
aquilo que já é passado.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

ÀS VEZES SÓ CHOVE DENTRO DA GENTE (OLHOS NUBLADOS)

às vezes eu forço
um simples sorriso.

às vezes esqueço
do que eu preciso.

eu sei que é estranho
muito do que digo

falar com as paredes
melhores amigos.

às vezes só chove
dentro da gente.

e às vezes é foda
seguir em frente.

e eu sei que você
já vai passar.

pelos olhos nublados.

às vezes faz sol
no nosso sorriso.

às vezes eu lembro
do meu infinito.

eu sei que é estranho
o caminho que sigo.

deixar as paredes
criar meu destino.

às vezes só chove
dentro da gente.

e às vezes é foda
seguir em frente.

e com você
fica fácil enxergar

pelos olhos nublados.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

RECHEADO DE VIDA

estou cheio de vida
para ser amado pela metade
mas devolver dor à fonte
não alivia a minha.
 
demoliram-me quando o plano
parecia perfeito.
o que restou forte
foi minha base
a sorte das estruturas.

os cacos do meu coração
consertam minha visão.
e o que é meu 
é guiado pela minha luz
mesmo com as contas atrasadas.

estou cheio de vida
para diminuir-me por alguém.
se o conforto alheio custa-me a paz
ergo uma bandeira branca
enquanto viro as costas.

ninguém tem meu poder sobre mim.

vou escolher melhor minhas lutas.
às vezes não vale a pena
segurar com tanta força
se escapa por entre os dedos.
que voe e deixe-me uma lição.

estou cheio de vida
para ser meio feliz.
minha melhor versão é agora
e esse é meu presente.
aqui há sempre mais 
do que se imagina.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

BOA CONDUÇÃO PARA O INFERNO

tenho medo de tirar as mãos do volante.
mas já tentei ser bom condutor
e seguir a estrada imposta.

só que a estrada imposta
me levou ao inferno
à lâmina nos meus pulsos
ao cano no meu crânio
à overdose na beirada do peito.

e mesmo pré-morto
eu ainda tenho medo
de soltar a porra do volante.

sigo adiante com freios
enquanto toda essa gente doida
bate em mim à mil por hora.

vejo a insanidade agora
no retrovisor do passado mal apagado
e no pedágio
das expectativas não resolvidas.

sigo à direita
na faixa da calma
enquanto enlouquecem
e gritam e maltratam
aos vultos do próximo.

minhas mãos anseiam controle
quando tudo já foi
pra puta que pariu.
quem me dera mais estabilidade
pra suspender meus demônios
e praticar humanidade.

eu vejo o horizonte 
inegavelmente insano
e propenso a chamar
quem não deseja estar
no mesmo lugar.

assim meus dedos
descolam da borracha
e meus olhos
flertam com o escuro.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

SEM TÍTULO


eu e você, mais você do que eu.
já contei tantas vezes tudo que cê perdeu.
você me pergunta se já me doeu
interrompe a resposta, meu brilho é seu.

uma cidade de amigos manequins
fazendo o look pra mim
eu sou o que pareço.
o que estarei vestindo no fim?

vidro encosta na boca
um movimento, um movimento repetido
que se perde no próprio sentido
a única coisa que faz sentido.

balanço da cabeça para encachaçar mais rápido.
balanço patrimonial para amores.
hoje eu toco o som delapidado
o barulho do destino roubado.

sem título, sem mimo
sem nada como estímulo.
cafeína faz a vida
nas minhas veias a saída
é finita.

vire eternamente as costas
para aquilo que feriu.
lâminas afiadas cortam limões secos
e dedos
e medos
hoje eu bebo até a puta que pariu. 

eu e você, mais você do que eu.
prestar atenção no outro virou doação.
vou prestar atenção na sua boca
falando nada com merda alguma.

balanço a poeira que suja meu chão.
balanço e caio 
hoje eu faço, hoje eu faço
o nada que eu já deveria ter feito.

segunda-feira, 22 de maio de 2023

MUDANÇAS

quantas voltas a Terra vai ter que dar
pra ver se saio do mesmo lugar?
quantos outros dias de ver a parede
bebendo ansiedade além da minha sede?
o copo tá cheio, caderno vazio
a mente tá cheia, o bolso vazio
não sei se eu luto, se choro ou se rio
conto até dez e chego à mil.

acho que preciso mudar um pouco
fazer de tudo pra não ficar louco
mas eu sei que só quem é louco
fica com tudo e não só com o troco.
grito minha alma, meu ser já tá rouco
um perrengue velho, um problema novo
não quero cair no mesmo buraco
que seja errado, mas não "de novo".

eu poderia ser protagonista
mas em todo roteiro eu não tô na lista.
qual o meu papel na minha vida?
sou aquilo que corre ou sou a corrida?
não se reprima, não se reprima
você vai dar a volta por cima
por cima de quem? acima da onde?
um ponto de vista que não cita fonte.

acho que vou ter que mudar um tanto
rabiscar na cabeça alguns novos planos
vou ter que mudar o que ando sonhando
ou ficar acordado pra não ter engano.
já tentei tanto me encaixar
já tentei e deixei pra lá
hoje fico aqui sozinho
vendo no espelho o meu inimigo.

não quero mais ser assim comigo
quero ter base pra ser meu abrigo
quero abraçar, cuidar, ser amigo
se é pro meu bem, digam que fico.
eu já me cobrei, já devi e paguei
já falei demais ou só escutei
já sei que errei, eu sei que errei
é perda de tempo ficar me punindo.

(mudanças
chega uma hora que não dá mais pra carregar
o que montamos com nossos pedaços.

temos que deixar partir pra prosseguir
com mais leveza 
os nossos próximos passos.

espero que você mude quantas vezes for necessário
não há resposta certa 
e nenhum questionamento errado.

a inconstância é constante
e nada permanece nesse acaso.

tudo aquilo que me fez hoje eu já me desfaço
com os pés descalços pisando no espaço
infinito cósmico abraço.

a melhor versão de você
é a única que pode existir.
sorria, você já está aqui.
e agradeça; você ainda está aqui.)

quinta-feira, 4 de maio de 2023

COMO DEVE SER

somos o que restou de uma explosão.
poeira estelar
com razão e emoção.

parei de brigar com a vida
para me permitir vencer.
seria uma luta infinita.

cansei de mudar as linhas.
deixo tudo acontecer
como deve ser.

não me desmonto se você
roubou um pedaço meu.
ainda sou inteiro.

e os planos que amamos
se tornaram enganos insanos
em prantos ficou
uma parte minha
que nem sabia
chorar.

nem sempre é o que queremos
e olha que eu quis
(será que ainda quero?).

só não espero mais.
vou caminhando de encontro.
se desviar, que fique pra outro.

somos uma consequência
causando efeitos.

seu efeito em mim
foi deixar a porta aberta.
entrada e saída.
seja qual for a preferida.

aceito qualquer resposta
porque sou maior que minhas perguntas.
sou a expressão de tudo.
e é assim que é.
é assim que tem que ser.

quarta-feira, 26 de abril de 2023

APRENDENDO A (ME) AMAR

amor é gostar de qualquer espelho.
mesmo que sejam os olhos
da pessoa amada.

aprendi algumas coisas
fumando na força do ódio
e bebericando corantes alcoólicos.

ficar só na companhia de si.
jantar paixão com as paredes
e a própria respiração.

apreciar o relógio no rosto.
cada ruga um ano.
expressões do tempo.

só depois de me entender
eu enxerguei você
como deve ser.

juntei perfeições e defeitos
e guardei no mesmo peito.
este aqui, aberto pra ti.

só assim nos gostei.

abraço que sorri.
beijo cicatriz.

invejo o infinito
que pode te ver feliz
quando quer.

mas sigo meu caminho
te estendendo a mão.
venha se quiser
andar um tanto comigo.

SÓ VAI

joga esse passo pro mundo.
assim nasce toda jornada;
no primeiro metro.
mesmo incorreto.
cair é marido do levantar.

tem amigo pra sempre
que vai se separar pra nunca mais.
cada um segura seu conto.
siga em frente e ponto.

esses cruzamentos
são pavimentos
pros seus sonhos.

tente e erre.
não desespere.
supere.

um até logo pra quem já desceu.
minha parada é a seguinte
e continua seguindo.

sou meu pilar, minha base.
me sustentei até hoje
resistindo o atrito do tempo
e a corrosão tóxica da apatia.

construo no agora
meu próprio abrigo.
descanso em mim e
acordo pra vida.

dê o próximo passo.
assim continuam as jornadas;
um pé na frente do outro.

COMO ESCREVO MEUS POEMAS

sento e batuco meus dedos no teclado
sem encostar nas teclas
até que algo possa ser dito.

bebo e fujo do mundo
sentindo uma fração de tudo.

lembrete de poesia;
aquele dia que nunca mais será.

perco minha identidade
quando busco uma personalidade
que agrade
alguém menos importante
que meu reflexo.

nem toda pessoa sabe ser gente.
por isso permaneço em casa
com as roupas velhas no corpo
enquanto as novas mofam de ansiedade.

sento e negocio com o acaso
alguns versos subconscientes.

aperto a descarga.
fluxo de cantinho do vale
escorre as merdas que sinto
pra tela do computador.

lembrete de poesia;
ritmo sem rima 
quebrando o flow.

hoje terei algo para vocês.
uma linha minha 
sangrando tinta.

sábado, 22 de abril de 2023

GATOS SOLARES

seus pelos no meu colo
apagam meu cansaço.
olhe nos olhos de um gato
e entenda sua própria ignorância.
eles sabem o que desaprendemos.
me lembra uma velha história 
de viver a vida
como a vida deve ser vivida. 

suas patas no mesmo chão 
onde já derramei tanta situação.
um pano pra limpar
pegadas teimosas. 

cantam pra gente aprender a ouvir
que bicho não deixa de sentir.
um dia talvez sejamos
tão plenos
caminhando mansos
nos tropeços da estrada
(essa que não se acaba
só porque termina). 

a língua áspera lixa minha pele.
são retoques que esqueço.
eles sabem mais das coisas
porque seus olhos veem o dia
seus ouvidos escutam o dia
suas bocas devoram o dia
suas garras arranham o dia
e o meu sofá
como se tudo fosse
uma coisa só. 

e talvez seja. 

gatos solares esquentam a parte minha
que deixei esfriar no frio do mundo.
ainda sou capaz de amar.

quem me dera ronronar
verdadeiramente
meus impulsos. 
pulando telhados
caçando ratos
sem me preocupar
correndo às margens das impressões.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

BICHO RIDÍCULO

todo mundo é bicho ridículo.
somos todos bocós
com pelos em lugares esquisitos.
pra que levar a sério
se estar vivo é motivo pra sorriso?
 
gaguejei frases fluídas
e troquei os horários.
você sempre tem a resposta certa
e eu a pergunta errada.

tropecei nos meus descaminhos.
não consigo ser tão descolado.
ele é tão desapegado
quanto a dignidade
sendo apreciada
pelos vermes da terra.

ora, cair é normal
nada de uma gravidade absurda.
você cai e levanta
é assim que se aprende a andar.

mais um troco pro coração.
aumento meus atrasos.
esse tempo já não é meu
(vendi na promoção).

gases em voz alta.
a dança do dinossauro
que não foi convidado
pra extinção.
meu copo favorito quebrado.
meus gatos miando pela ração.
os foras que levei
e os foras que dei.
tudo numa linha torta.
não importa, repita comigo:
não importa!

quero falar, quero gritar
e espernear que a vida
está fluindo em mim 
como sangue
e como ar
e como amor
e que nada é maior que isso.
nada é mais valioso
do que ser besta 
e falho e todo.
tolo e verdadeiro.
somos tontos, e ponto.

essa é nossa deixa.

ISSO NÃO É HORÓSCOPO

não é pra combinar com você.
eu não te sei
não te sou
não te sinto seus sentidos.

só sei de mim
e de mim amplia
uma visão afunilada do acaso.

isso não é horóscopo.
não sou astrólogo.
não conheço a história
do início ao fim.
só sei sentir
e poucas vezes
pensar.

não é sobre você 
querida estrela caída
que ainda tenta fazer orbitar
as outras pedras.
nem é sobre mim também.

é sobre a porra da Arte.

A DANÇA

esquecemos como se brinca de viver.

ainda tô me recuperando.
meu remédio é paliativo
espuma num copo de vidro.

quem roubou meus últimos anos?

os pés exaustos choram dores
suportando amores de faz de conta
num peito exaurido
chiando toxinas
as dos outros e as minhas.

quero ver quem vai dançar
mexer e deixar pra lá
mesmo que não tenha música .

a vida é melodia única.

quero ver quem vai dançar
vestido de absurdo.
ser rio pra limpar seu mundo.

não sei quem me chamou
mas mesmo assim aqui estou
corpo alma febre trauma
numa festa renegada
de condução vendada.

tente manter a calma.
já pensaram muito nisso.
já vendi madrugadas pro assunto.

é só uma dança.
não leve tão à sério.
não castigue sua criança
só porque o mundo te fez velho.
aproveite o processo
porque logo é só regresso
ao nada das notas caladas.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

VAMOS BEBER

copos vazios não trazem
boas lembranças.
vamos enchê-los de cerveja
e pagar nossa fiança
pra sermos livres uma só noite
daquilo que mais tememos.
pra ser abrigo e ser a foice
que ceifa os nossos medos.

você já disse que talvez.
então vamos até o meio do caminho.
já virei, é sua vez.
dope sua alma com muito carinho.

um brinde ao acaso.
o papel que desfaço.
o espaço cheio de um maço
tem tanto significado.
eu não me largo hoje.
se for pra ficar sozinho
prefiro fingir sorriso
quando você beija minha boca
sem me conhecer.
sem me entender.
pra que pensar
se posso viver?
pra quê, também?
pra quê?

copos cheios não trazem
boas histórias.
vamos esvaziá-los
criar insanas memórias.
pra sermos livres uma só noite
daquilo que cobram a gente.
pra ser amigo de uma escolha
ser aquilo que podemos.

você já brinca com o bar.
essas são nossas paredes.
vai ser tão fácil viajar.
a loucura é meu deleite.

cérebros gelados 
são mais desapegados.
vamos beber
até esquecer
meu corpo excitado
com seu descaso.

venha me conhecer.
tente me entender.
pra que pensar?
se pra morrer temos que viver?
pra quê, também?
pra quê?

copos na metade são o começo do fim.
sou pessimista sim.
sou otimista assim.

segunda-feira, 3 de abril de 2023

TRIBUTO À SUJEIRA

tô tão feliz
porque meus amigos me esqueceram.
e eles estão bem.
tá tudo bem.
comprei roupas velhas num brechó.
amanhã compro um novo caixão
quando o sol se tornar
um buraco negro.
apague essas velas.

tá tudo na minha cabeça.
você quebrou seu espelho.
você é tão inútil quanto dizem ser?

encontrei meus amigos
fodendo meus amores
e eu não me importo
por fora.
já tô louco de inseticida.
tô tão sozinho.
sou culpado pelo o que dizem.
te encontro aonde os desejos
se tornam bons.
talvez no jardim dos sons.

tô ansioso e com tesão
pra ser rejeitado
por ser tão feio
quanto você.
mas eu encontrei a benção
na minha cabeça raspada.

eu não vou quebrar
porque te gosto.
não vou quebrar
porque alguém me ama.
eu tô tão feliz.
meus amigos não existem mais.
estou há tantos anos
bebendo.
eu não vou quebrar, te juro.
sou uma pilha radioativa
expandindo minha energia.
lítio pra quem amo.
pérolas pra quem deixo.

O QUE GOSTO DE VERDADE

é essa bebida de novo.
bebida que se bebe sozinho
mesmo na presença do vizinho
amarga mais rápido na garganta.
deixa o estômago pro destino
e o fígado é sacrifício
prum sorriso mais fácil.

de qualquer forma
vou dizer coisas erradas pra você.
então é melhor errar
naquilo que gosto
de verdade.

tudo o que não te falo
vira tudo o que queria te falar.
mas de alguma forma me calei
deixei pra lá.
varri pra debaixo do tapete sujo
da minha sala
de sentimentos suprimidos.

será que é por isso
que meus espelhos
são tão ridículos?

vamos caminhar juntos.
você brilha tanto.
vamos queimar juntos.
do nada estamos loucos
numa esquina que já é nossa
mas que nunca é
e nunca será.

vai lá ser o estranho
que continua lutando
imortal
numa batalha sem sobreviventes.
seu dedo aponta minha cara
e minha cara diz tudo.
seja bem-vindo
ao meu mundo. 
vou continuar errando
naquilo que gosto
de verdade.

JÁ PASSOU

trago o amargo 
da falta do seu doce
e solto uma fumaça livre
daquelas que você nunca viu.

vou fumar mais uma história
dos maços passados.
marcas que me enojam
marcas que me matam.
já passou
mas ainda está aqui
no meu pulmão
como alcatrão e nicotina.

quantas substâncias tóxicas
haviam na nossa rotina?
quem vai me devolver os meses
que eu tentei parar
de você?
e o que vai me curar
do que inalei
respirando seus dias
nos meus
como se suas nuvens
fossem mais importantes
do que as minhas?

tá, já passou
mas nem tanto.
tão pouco.
tô pouco
tô louco
tô rouco;
pigarro de palavras não ditas.

espero que esteja bem
mas não tanto.
bem pouco.
um troco
que sobra nos bolsos
da calça suja.

fumo as incoerências
mais malditas e
aquela fita que não resolvemos.
a outra que talvez.
a outra no meio.
desvaneio na pausa de tudo.
sou dependente de mim.
hoje uso suas desculpas
como cinzeiro.

já passou, querido coração.
já passou, fodida maldição.

NEM VEM, MEU BEM

eu não te orbito.
não orbito ninguém.
nem vem;
eu danço o espaço
que me convém.

eu saio pra conseguir entrar
no que desejo ser.
é bem difícil aparecer
quando te querem além
daquilo que está disposto.

eu sinto o osso da minha alma
ficando oco
quando preciso meter o louco
só pra ter um pouco
de mim em nós.

que venham todas as ruas então
e todas as suas loucuras.
eu sou a própria insanidade
buscando alívio em reciprocidade.

é um desaforo
não me entender
nos dias que não sou
pra você.

não te perguntei.
deixa que eu sei
me comportar
nas minhas regras.

todo corte é trégua.
a guerra entre minha alma
e aquilo que se espera
de um adulto responsável.
um brinde especial
com copo descartável.

eu sou isso.
um pouco de tudo 
o que me fez.
minhas cagadas
e o resto todo
me formando
um ser e tanto.
então não me venha
com seus planos.
já me garanti nos meus anos
florescendo na lama dos enganos.

domingo, 26 de março de 2023

ÁTOMOS SINCEROS

tô odiando seus átomos hoje.
vou botar mais açúcar nesse remédio
que me faz sorrir
para aquilo que quero matar.

acho que esqueci
como se faz
pra ser feliz.
minha criança interna caducou.
tá vencida
mofando na gaveta do desgosto.

nunca me disseram
que seria fácil
mas também nunca me disseram
porra alguma
que valesse a pena escutar.

vou me enfiar nas minhas fotos
e você tenta achar
a parte que mais te agrada.

enquanto isso
continuo odiando seus átomos
que tentam brincar com os meus
enquanto acho uma palhaçada
tentar ser palhaço
na lágrima alheia.

você chorou e ninguém viu.
parabéns.
não use minhas fraquezas
pra justificar as suas.

vá se ajeitar pro seu destino
que te espera
com os dados na mão esquerda
blasé enquanto você pensa
que há alguma chance
de não ser imbecil
diante sua situação
de ser humano.

se já tá escrito
leia rindo.
se é espaço em branco
preencha com qualquer merda.
algum alien vai achar divertido
escavar nossos sorrisos.

terça-feira, 7 de março de 2023

O QUE ESCUTEI DEPOIS DE UNS COPOS

você vai me consumir de novo
só pra deixar de ser você.
estou no corpo dos seus amigos
fazendo a festa que eles
não fizeram acontecer. 

você vai me largar de novo
e dizer que é novo
esse velho ciclo de mentiras.
uso promessas como troco.
meu cofre está cheio.
sem mim cê fica pouco. 

você se enche de mim
e diz que é o fim.
faço parte de tantos finais
que o seu é só mais um.
simples assim. 

vai me deixar na geladeira
e me tirar de lá 
com a mesma força 
que me guardou lá dentro.
busque seu cem por cento
engolindo doses de mim.
porque eu sou tão doce
e tão conhecida
que eu duvido que exista
alguma alegria 
sem minha presença.
ninguém se satisfaz
com a própria essência.
meu nome no contrato
é felicidade de aparência. 

você vai me segurar 
e não vai querer soltar
desde a primeira vez.
você vai ter que me aturar
nos seus desejos
em tudo o que você ver.
até que um de nós mate o outro.
bem, você me mata sempre que pode. 

você consegue sentir, não é?
o escuro que eu te trouxe.
o silêncio que você me pediu.
você me usou como fuga.
agora fuja, pequeno erro. 

fuja.

domingo, 5 de março de 2023

DIANTE MINHA PRÓPRIA LUZ (para Tabita Morais)

saí de casa cedo
pra me habilitar
a dirigir minha vida.

já fiquei sozinha
rodeada de concreto e espelhos.
já encarei os olhos insanos
do desespero.
mas tenho alma nômade
não moro pra sempre
no mesmo sentimento. 
é minha fé
inabalável fé
que faz da lágrima
aquilo que me deixa em pé.

quis me comunicar 
com o que é meu
por direito;
a liberdade do erro.
ser aquele alguém 
que é por inteiro.

as veias do meu país
pulsam pelos rios
ensinando a me fluir.
Deus está nos detalhes
e em tudo que mora em mim.

sim, eu já quis fugir
e deixar tudo ruir no final.
mas cá estou
de diplomas armados.
braços preparados
mãos no volante
seguindo adiante.
vencer é o meu novo normal.

aprendo a me conhecer
para saber me gostar.
enquanto limpo minha mente
e pisco os meus olhos
diante à natureza.
o milagre é a beleza
de ter mais um dia.

eu sou o que me busco
e apago as ilusões
como uma luz numa noite
de infinitas estrelas.

morando onde eu posso
(e eu posso tanto).
cultivando o que é nosso
(e a canção sigo cantando).
minha missão não se interrompe.
viajar é continuar andando
entre trancos e barrancos.
superar entretantos
e entender os enganos;
somos tão apenas humanos.

meu presente é estar presente
diante minha própria luz.
sou o que me conduz
pelas estradas escuras.
ser o que sou
é mais que o suficiente. 
sou meu melhor ainda.

sexta-feira, 3 de março de 2023

VOCÊ JÁ É O SUFICIENTE

vão dizer que não
mas dizem tantas coisas
hoje em dia.
opinião dos outros sobre você
é como um livro
recheado de palavras vazias.

se for pra ser vazio
que seja a mente
pra dar espaço ao fluir.
é pra isso que servem as bebidas.
um brinde ao álcool
e as lições da ressaca.

você vai se cobrar.
é normal.
vai dizer que a vida é uma soma
que zera no final.
zerei minhas moedas
e muitas vezes minhas idéias
ou
a minha paciência.
mas ainda há chama.
então que seja
chama.

o importante é saber
quais números 
te cabem melhor.
pois você já tem o seu valor
e ele é infinito e único
uma combinação que só existe
em você.
mas você precisa ser você
para que essa combinação exista.
aceitar-se para depois crecer.

você já é o suficiente
e aquilo que não deu, não deu.
meu amor não coube
na última pessoa
que deixou minha porta aberta.
não vou mudá-lo.
não vou moldá-lo.
um dia a gente se encaixa
em alguém com o buraco certo.

e tenho dito
se é que eu disse 
o suficiente.

sábado, 25 de fevereiro de 2023

BARREIRAS MENTAIS (DORMINDO DEMAIS)

tenho dormido muito
porque acordar dá trabalho.
o espírito costurado
no travesseiro
abre os olhos secos e exaustos.

tenho dormido tanto
porque sonhar é mais barato
do que manter a realidade viva.
não me lembro dessa dívida.
"aqui tá o mundo, prossiga".

sopro as velas
pra navegar
mais um dia
e deixar pra lá
barreiras mentais.

tenho dormido muito.
acho que Morfeu enlouqueceu
jogou um deserto em mim.

levantar é um ato de revolta.
tanta coisa à nossa volta
nos puxa pra baixo.
eu faço e me refaço
pra ser livre do abraço
gentil e frio
do desistir.
eu só desisto
do que atrapalha
meu fluir.

sopro as velas
pra navegar.
é preciso
embarcar
sem carregar
barreiras mentais.
e agradecer
por ouvir o despertador tocar.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

QUE SEJA (para Ana Carolina)

dentro desse mundo infinito
das possibilidades
eu no fundo acredito
que todos os milagres
são escritos 
com letras minúsculas.
cada pequena peça se encaixando
formando os detalhes dessa história.
o encontro por acaso com o agora.
a gente faz parte dessa obra
esculpida no amor
talhada na memória.
e seja como for
o destino que nos pertence
abençoado seja.
como é bom ver você
a vida inteira.

nessas viagens mundo afora
foram tantas despedidas
em qual das avenidas
as lembranças foram esquecidas?
nessas viagens mundo adentro
ainda queima
colorida
nossa partilha de feridas.
mesmo que haja separação
o coração não se desliga.

um brinde aos dias 
que acordamos razoáveis.
um brinde quando conseguimos
fluir pelos entraves.
se alguma lágrima cair
que caia em qualquer rio
para depois se tranformar
na imensidão do mar.
e seja como for
o destino que nos foi escrito
que seja bem-vindo.

como é bom te encontrar
no meio da trajetória
e te colocar
como parte do que me aflora.
se as estrelas nos guiaram
para a beleza desse agora
eu só agradeço e permaneço
na trilha da boa energia.

dentro de todas as chances
nos cruzamos na rua da sorte.
boa sorte pra gente.
cabeças erguidas
passos pra frente.


sábado, 4 de fevereiro de 2023

RUÍDO MENTAL

esqueceram o amplificador ligado
na tomada esquerda do meu crânio.
dissolvido em absoluto ruído.
a mente tentando comer
o mundo inteiro
sem abrir a boca.
a mesma nota distorcida
tentando ser melodia.
uma sinfonia para o nada.
o branco espaço entre as palavras.
onde estou dentro de mim?

perdi meu personagem.
assassinei as minhas falas.
escondi o meu estilo.
despedi a minha voz.
sobrou a carne ansiosa
e o instinto de viver.
sobrou o corpo e a história
e as luzes apagadas
para ninguém ver
o que sou
quando não sou.

hoje eu só quero dormir.
não me chame pra sair.
não há nada aqui
para ser convidado.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

ENCAIXE

é, eu acordei 
desencaixado do mundo.
as minhas peças se soltaram
pelos pensamentos mundanos.
do outro lado da cama 
estava o espaço 
que alguém deixou por engano

a manhã está tão cinza
e eu não sei o que me habita
pois há tanto dessa vida
que não bate com minhas contas.
amanhã é outro dia
e já sei que a rotina
mais uma vez repetida
não vai mudar o que eu sinto.

afinal 
é difícil se encaixar
quando diminuem seu espaço
e moldam os seus pedaços
pra nunca ser inteiro.
afinal 
pra quê se encaixar?
se sigo firme nos meus passos
e os contos tortos que eu traço
fazem-me rir por dentro?

não precisa ser perfeito.
basta fazer direito.

é, eu acordei
desencaixado de você.
nem lembro da última vez
que nos entendemos.

dissemos coisas para haver
algo pra se ver
nos quadros da nossa história.
fizemos só pra entreter
uma platéia démodé
conservada na ignorância.

afinal
teimam para nos encaixar
num padrão nefasto
que nos deixam tão exaustos
com nossos espelhos.
afinal
é melhor desencaixar
abrir as asas dum sorriso
e deixar ele voar
até o pico 
do que dá pra ser.

não precisa ser perfeito.
basta existir de jeito.
é, não precisa ser perfeito.
aproveite; ainda há tempo.

RECONHECIMENTO

eu desejo a sua força
pra prosseguir estes caminhos
tão difíceis
que seus pés já conhecem.

eu queria ser um pouco você
tão extraordinariamente 
você.
tão absoluta, tão adulta
mesmo jovem 
seguiu na luta.
ah, a lua
tá de prova
quantas vezes
seus olhos viraram na aurora.

eu desejaria
um pouco de você
na minha vida
pra garantir minha alegria
e uma amizade
sem covardia.
por que
não te tratam
como deveriam?
sorria
por favor.
é a garantia
de manter o seu amor
numa via infinita.
não desista, não desista!

assim segue a vida.
tão cega quanto despedida
que dá as costas
pra última amiga.
não que isso 
significa
qualquer coisa
pra sua pessoa.
espero que você se signifique
e se alinhe 
diante àquilo que te afronta.
que nada disso seja à toa.
mas se for também
fique na boa.
sua energia é boa
ah, é tão boa!
eu fico aqui com a boca
totalmente aberta
admirando sua trajetória
repetindo as palavras...
foi mal
me perdoa!

eu desejo sua força pra você.
eu desejo que o espelho
não demore a te enaltecer.
que seja tão costumeiro
à cada dia engrandecer
isso que já é tão grande
que não cabe nos espaços da palavra;
essa lindeza que é você.