tenho medo de tirar as mãos do volante.
mas já tentei ser bom condutor
e seguir a estrada imposta.
só que a estrada imposta
me levou ao inferno
à lâmina nos meus pulsos
ao cano no meu crânio
à overdose na beirada do peito.
e mesmo pré-morto
eu ainda tenho medo
de soltar a porra do volante.
sigo adiante com freios
enquanto toda essa gente doida
bate em mim à mil por hora.
vejo a insanidade agora
no retrovisor do passado mal apagado
e no pedágio
das expectativas não resolvidas.
sigo à direita
na faixa da calma
enquanto enlouquecem
e gritam e maltratam
aos vultos do próximo.
minhas mãos anseiam controle
quando tudo já foi
pra puta que pariu.
quem me dera mais estabilidade
pra suspender meus demônios
e praticar humanidade.
eu vejo o horizonte
inegavelmente insano
e propenso a chamar
quem não deseja estar
no mesmo lugar.
assim meus dedos
descolam da borracha
e meus olhos
flertam com o escuro.