carrego os escombros do meu dia
até a mesa
e meu amigo copo
abraça minha amiga bebida
enquanto os primeiros acordes da noite
ressoam improvisados pela esquina.
sim cada janela.
cada janela uma história.
quem não vou conhecer hoje
parece mais interessante
do que qualquer olhar
que não encaixa com o meu.
mas quando tem
(e algumas vezes tem)
aquilo que desce a garganta
seca de poluição emocional
fica com um gostinho de deus.
já tô ecoando fora de mim.
já sou uma coisa só.
se perguntarem meu paradeiro
a resposta é a rua
e se perguntarem o que sou
digo que virei a noite.
não lembro do que disse.
não lembro de olhar o espelho.
não lembro da consciência.
mais veneno, mesa trinta e um.
preciso ir ao banheiro
encarar um azulejo
verdadeiro o suficiente
pra não me dizer
o que diz minha mente.
e quando volto
já não entendo o mundo
e os corpos rebolam
e as bocas se encontram.
mordo ligeiramente meus lábios
enquanto minha alma esfaqueia
as paredes do meu
sistema nervoso
em busca da próxima adrenalina.
cadê aquele olhar
que encontrou o meu?