sexta-feira, 21 de julho de 2023

CORTEJO

cortejo a melancolia das minhas luzes fracas
lutando contra o escuro da noite
e o meu teclado sujo
velho e maculado
tão tocado que parece público.

cortejo os ensaios 
daquilo que nunca direi
mas que quero dizer.
e as encenações no palco da mente
todos os fins que não começarão.

cortejo você;
cortejo a gente.
cortejo o que fica depois de nós.
e você nem lê mais minhas mensagens.
agora eu recito o lixo
onde joguei minhas memórias.

ah, cortejo o vidro do copo
e o cristal da taça
e o pó da mesa
e a beleza
de ser 
o único louco
acordado depois
das três
no meio da semana.

e sim, eu deixo
meus dedos batucarem a impaciência
batucarem a indecência
batucarem cinzeiros cheios
de algo que nem lembro se fumei.

e sim, eu esqueço
que um dia eu pensei
só em você
e agora eu penso em você
e em todo o resto que deixei de lado.

cortejo as linhas vazias
inocentes
que eu sujo com a minha vida.

e cortejo o som
que faz a noite calada
numa rua de periferia
emaranhada entre asfaltos
e números trocados.

ah, se alguém estivesse aqui
além de mim
e eu mesmo...