cortejo a melancolia das minhas luzes fracas
lutando contra o escuro da noite
e o meu teclado sujo
velho e maculado
tão tocado que parece público.
cortejo os ensaios
daquilo que nunca direi
mas que quero dizer.
e as encenações no palco da mente
todos os fins que não começarão.
cortejo você;
cortejo a gente.
cortejo o que fica depois de nós.
e você nem lê mais minhas mensagens.
agora eu recito o lixo
onde joguei minhas memórias.
ah, cortejo o vidro do copo
e o cristal da taça
e o pó da mesa
e a beleza
de ser
o único louco
acordado depois
das três
no meio da semana.
e sim, eu deixo
meus dedos batucarem a impaciência
batucarem a indecência
batucarem cinzeiros cheios
de algo que nem lembro se fumei.
e sim, eu esqueço
que um dia eu pensei
só em você
e agora eu penso em você
e em todo o resto que deixei de lado.
cortejo as linhas vazias
inocentes
que eu sujo com a minha vida.
e cortejo o som
que faz a noite calada
numa rua de periferia
emaranhada entre asfaltos
e números trocados.
ah, se alguém estivesse aqui
além de mim
e eu mesmo...