A maior habilidade do humano é adaptar-se. E jogamos isto fora quando buscamos uma "personalidade", limitando-nos em três palavras: "eu sou assim". Prefiro mudar entre um minuto e outro. Como uma playlist no aleatório, dançando o que vier a estourar as caixas de som paralelas. Ou como um livro de poesia, onde, em algumas palavras, uma vida termina e outra começa. Metamorfoses ambulantes, já diziam há cinquenta anos atrás.
A única peça comum que nos define é a arte, a expressão do ser. Ser, ser e ser até o talo, até o caroço. E aí lamber e chupar este caroço até desfazer-se em átomos. Eis um bom propósito para as almas perdidas, caminhando cinzas no império incolor dos colossos de concreto.
Não quero ser melhor, me aperfeiçoar, se isto significar ter de deixar em cativeiro alguma asa minha. Quero apenas aprender a voar mais graciosamente. Autoajuda soa como adestração. Aprender o que dizer, o que pensar, quando e com quem. Se jogássemos fora nossos velhos conceitos, e apenas focássemos neste amor, nesta chama que em todos habita... Sim, esta força que nos faz sorrir quando um neném sorri pra gente, ou quando nossas mães faziam cafuné em nós, ou quando nos apaixonamos a primeira vez, querendo o bem do próximo como a nós mesmos; bem, o mundo seria mais escasso em problemas. E não que seja o planeta, mas o mundo humano, a odisseia infinita de miséria e insanidade.
Larguemos o que nos prende! A cobiça! O abandono! A história que fizemos ser! Toda podridão que agarramos forte no colo e que carregamos por aí como se fizesse parte do nosso corpo! Não é mais, já foi. Todo agora é uma chance de adaptação, de ser parte de tudo. Não há você nem eu se não houver o resto, o imensurável resto do universo. Somos tão estrelas quanto quasares, buracos negros, supernovas. Quatro dimensões de vida. E eu não quero ser melhor, porque ser melhor do que isto é vaidade.