quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

DESEJOS QUARENTENADOS

Entre uma falta e outra, o pedaço perdido mais valioso ficou no que é simples. Quero ver meus amigos e reuni-los junto à novas pessoas. E dentre os rostos dos novatos, chupar alguns lábios. Apaixonar-se é lucro, embora paixão faça falta em meus bolsos. 

Às vezes sinto cheiro de cloro e álcool. Logo uma piscina, bem grande, e a carne em todos os pontos. Apenas roupas de banho; nada de máscaras abafando o som do coral naquela canção marota dos anos 90. 

Abraços. Cumprimentar de coração com coração. Apertar forte até sentir batimentos da alma. Saber pressão e pulso. Encostar nariz e testa, fincar olhos um no outro e dizer "você é uma pessoa incrível, me dá um selinho".

Litrões na Augusta, na Peixoto Gomide, em qualquer boca de mosca. E dessa vez acompanhado; bebidas amargam mais na solidão. Despejar breja em copos de 500 ml e virá-los de uma vez se estiverem na mão esquerda. Misturar todos os sabores de Corote e alcançar as verdadeiras cores do universo.

Amigos em casa, na tarde chuvosa do tédio. Risos aleatórios sobre palavras soltas ao acaso. Nada de brigas. Mas, se houver, que todas acabem em vínculos fortalecidos (e se o desejo estiver presente, em fodas de reconciliação).

Muita foda pra gente; tá foda, mano. É de foder a mente.

Dinheiro e a oportunidade de obtê-lo. Nada de exagero; apenas nas doses cavalares de álcool no carnaval. Ah, um carnaval também não seria ruim. Exageros também no ridículo, pois este nem existe, é construção fútil de mentes preocupadas. Nos tropeços bêbados, nos atos apaixonados, na auto expressão do fantástico ser que nos habita: sejamos os mais ridículos, os mais tolos possíveis.

Entre uma falta e outra, o mundo inteiro é ausente. Sem a simplicidade, sem os caminhos até ela, perdemos o rumo da graça. Enlouquecemos sóbrios, trancados nos mesmos círculos. 

Aguardo ansiosamente o que desejo, como o único lugar aberto numa noite de feriado. Até lá, bebo uma latinha na sala.