segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

É NATURAL

Às vezes não sai. Igual sentar na privada e apertar a barriga. Não vai, não funciona. Cavucando lá no fundo. Escrevendo letras desconexas. Frases soltas sem sal, açúcar. Cruas como a carne do seu braço.

Às vezes sai. Como diarreia. No meio da rua, manchando roupa íntima, calça, calçada e algum infeliz que passou na hora.

O importante é lembrar pra quê. Se esquecer do pra quê, jogue tudo no lixo. Se ele ainda persiste, dá pra contar até a história da pomba manca.

Aliás, a pomba manca pousou despreparada na minha frente. Não tinha uma pata, mas uma linha que guardava como troféu. Caminhou até a poça de água suja formada na cratera da rua. Banhou-se, embebedou-se e gargarejou. Caiu fora.

Às vezes sai, e às vezes não. É natural.