Algumas flores nascem no meio
do caos e
são as mais belas flores
que você poderá ver
num rolê.
Pra mim, as chances de
presenciar isso eram quase nulas.
Como encontrar vida
num planeta morto.
Mas vida e amor
(se não são a mesma coisa)
sempre dão um jeito
de florescer pelas arestas
do tempo.
Seja no asfalto da Augusta,
no coração da cidade de pedra,
no olho calmo do furacão.
Eu vejo esse casal hoje e
sinto um sorriso nascer
de dentro do meu estômago
até os confins dos músculos
da minha face.
É inevitável. Raro.
Eles se olham.
O mundo só deles.
Os dois sorriem ao mesmo tempo.
O poeta observa.
Cenas assim dão esperança pra
velhos cachorros
que desaprenderam os truques
do amor.
Regaram seus sentimentos aos poucos,
quase sem perceber.
E quando ele percebeu,
ela disse primeiro.
Hoje a rua tá mais bela.
Ela o abraça por trás,
ele dá um corte no Corote e
passa pra mim.
Joga o cigarro fora e
entrega a caixinha de som
pra outra pessoa da roda.
Precisa estar com as mãos livres
pra retribuir o abraço.
Eu dou um trago.
Disseram que choveria
esta noite.
Disseram que o mundo iria
acabar.
Mas o casal não liga.
Há algo mais importante
rolando ali.
Algo que deixei com alguém
em algum momento
da minha vida.
Alguém sempre fica com
boa parte disso. Uma piada
de mau gosto.
Não importa no final.
Vejo o casal e a chama se
reacende.
A mais bela flor que já vi.