com a alma esfarelada
na mesa do bar
eu peço mais uma dose
de você
pra ver se lembro
que superei
todos os piores dias
que te precisei
e você não estava.
com as calças no joelho
jogo no esgoto meus sentimentos
um banquete para bactérias
solitárias
na pia eu vejo o espelho
e uma fila de gente apertada
segurando seus desesperos
na bexiga inchada
no fígado marinado
volto pra mesa desapegado
como se já não importasse
quem alí sentasse
e dissesse
"eu também passei por isso"
e minhas mãos alcançam o copo
o copo que está cheio novamente
e que transbordará esta noite
com os meus desejos
meus pés esfregam a calçada
no ritmo da ansiedade
já te disse:
não preciso de você
não preciso de caridade.