pés descalços no quarto
pele nua sobre o frio
de uma manhã inconstante.
dedos viciados
alcançam o maço.
nada como começar o dia
morrendo um pouco.
hoje a programação é ficar
preso no mesmo lugar.
hábitos apertados na canela.
suas marcas me trazem um conforto
desconfortável.
tenho mesa mas como na pia.
tenho cadeiras mas engulo
sapos de pé
com a cabeça erguida
todas as vezes
que consigo.
botar a mão na maçaneta
é fácil.
difícil é girar o pulso.
pés calçados na rua
à procura de um ônibus
que me entenda.
tenho contas à pagar
e bolsos meus à esvaziar.
lutar na arena do trabalho.
matar um leão por dia.
e meu cansaço dorme
no chão do trem
no nível mais baixo
do poço
onde o escuro faz cafuné
e o silêncio consola.
quando chego em casa
já não existo.
se é que existi.
se é que
estando vivo
eu vivi.