numa eternidade passageira
vão me carreirar
e perguntar
"e aí, quem cheira?"
vão me lamber numa seda
me babar e me enrolar
me tragar e depois
sou fumaça
vão me beber
vão me gorfar
e apenas
apertar a descarga
vão fingir que faço bem
que sou a única coisa que tem
ninguém sendo ninguém
e todo mundo no além
de suas desilusões
como se suas visões cegas
enxergassem o que não veem
mas o que eu vejo
se estou no escuro também?
vão me empacotar
me botar
debaixo de suas línguas
dizendo meu nome
como se eu fosse
a pior droga
de suas vidas
enquanto lambem suas feridas
com o veneno de suas salivas
babando e espumando
anjos que não voam
com asas corroídas.