domingo, 20 de setembro de 2015

UM CÃO


Começou a tarde fuçando no lixo daquele mercado descendo a rua. Encontrou algumas frutas. Estavam ótimas: sem mau-cheiro, machucados ou partes podres. Após comê-las, seguiu rumo ao mundo.

A tarde, então, ficou vazia. E ele olhava o pouco povo caminhar em suas linhas (estreitas), sem entortar o olhar para sí. Um outro, de bom coração, deixou-lhe os restos de uma marmita. Havia arroz, batatas e cenouras cozidas. Agradeceu ao bom moço da maneira que pode. Afinal, era só mais um cão que bebia cachaça e mijava no próprio corpo para não morrer nas frias noites de Junho. E assim, sem mais, o moço se foi, sumindo no emaranhado de esquinas. E o cão, de destino traçado, sentiu um aperto no peito após a generosa refeição.

Deste dia em diante, ninguém mais viu (nem fingiu que não viu) o cão que virava latas em trocados.