A vida é mais tragável quando você bebe. A janela do meu quarto ganhou um tom de carvalho. E eu gostava daquilo. Antes era marrom merda. Agora era carvalho.
A cama, bagunçada, ganhava um ar poético. “Na minha cama deixo minhas bagunças”, ou “bagunçaram minha cama e foi bom”, ou qualquer frase do gênero.
E dá-lhe whisky. Bebemos para saborear e bebemos para enlouquecer. Eu me sentia muito bem quando fazia os dois ao mesmo tempo. Começava com leves tragos: “bom whisky!”, eu pensava sobre aquela garrafa de 10 reais. E ia beijando o copo de pouquinho em pouquinho, como o corpo de uma mulher. Quando eu percebia que a vida é triste, o corpo de mulher se transformava em remédio. E quando a garrafa estava quase acabando, eu me dava conta que a janela tinha mudado de cor.