As linhas da estrada eram infinitas
Cortavam o asfalto,
e o asfalto cortava a paisagem,
E a paisagem cortava a janela
Onde repousavam meus olhos
que teimavam, sobre efeito de
noites mal-dormidas e lágrimas,
em continuarem abertos.
O ônibus trepidava
ultrapassando um veículo lento.
Estradas foram feitas
Para serem pintadas
com pé e marca de pneu.
Vá embora, na arte de se estradar
E suas histórias viverão para sempre.
Enquanto a cidade ficava próxima,
as palavras no fim se aconchegavam
E o ponto final
cortava o
infinito.
terça-feira, 29 de setembro de 2015
domingo, 20 de setembro de 2015
COMO FAZER ARROZ
Pense nela.
Adicione alho bem picadinho à panela
com uma pitada de óleo.
Imagine ela sorrindo.
E quando começar a dourar,
adicione o arroz e o carinho.
Pergunte a si mesmo o motivo
Pergunte a si mesmo o motivo
dela não estar ali agora.
Esqueça.
Mexa o arroz por uns dois minutos,
Esqueça.
Mexa o arroz por uns dois minutos,
então jogue a água
até cobrir dois dedos acima dele.
Abaixe o fogo e a cabeça.
Pense mais um pouco nela.
Adicione sal, e uma colher de saudade.
Adicione sal, e uma colher de saudade.
Espere por 20 minutos. Ou uma noite,
até que ela retorne.
Seu arroz está pronto.
Seu arroz está pronto.
Você não.
EQUILÍBRIO
Equilíbrio é isolar-se
para manter os amigos por perto
É dormir o dia inteiro
e amanhã não pregar os olhos
É fumar o último cigarro
e depois o primeiro
É começar e não terminar
É terminar sem começar
É aprender algo velho
e desaprender algo novo
Equilíbrio é empurrar um prato
que mal cabe no seu estômago guela abaixo,
beber e vomitá-lo pela rua
É estar com você
quando não estou
e não parar de escrever
mesmo quando a tinta acaba
ou a comida
ou a água
Contemplar sóis à noite
Equilíbrio é morrer
Depois de ter vivido.
para manter os amigos por perto
É dormir o dia inteiro
e amanhã não pregar os olhos
É fumar o último cigarro
e depois o primeiro
É começar e não terminar
É terminar sem começar
É aprender algo velho
e desaprender algo novo
Equilíbrio é empurrar um prato
que mal cabe no seu estômago guela abaixo,
beber e vomitá-lo pela rua
É estar com você
quando não estou
e não parar de escrever
mesmo quando a tinta acaba
ou a comida
ou a água
Contemplar sóis à noite
Equilíbrio é morrer
Depois de ter vivido.
PÁGINA EM BRANCO
Escolhi ser um nada
porque aí eu poderia ser tudo
Virei a página em branco
que contempla o suor de Kerouac,
a solidão de Bukowski,
um uivo
um almoço nu
Algumas memórias póstumas
de um incidente em Antares
Sou aquele nada constrangendo um beijo
Um domingo, ou uma segunda-feira
Sou aquele vagabundo excluído,
o voto em branco da sociedade,
a ressaca que martela mentes vazias.
Eu gosto de ser um nada
porque decidi não escolher
e essa foi minha única opção
E sendo nada eu virei espaço
Agora estou pronto para preencher-me.
porque aí eu poderia ser tudo
Virei a página em branco
que contempla o suor de Kerouac,
a solidão de Bukowski,
um uivo
um almoço nu
Algumas memórias póstumas
de um incidente em Antares
Sou aquele nada constrangendo um beijo
Um domingo, ou uma segunda-feira
Sou aquele vagabundo excluído,
o voto em branco da sociedade,
a ressaca que martela mentes vazias.
Eu gosto de ser um nada
porque decidi não escolher
e essa foi minha única opção
E sendo nada eu virei espaço
Agora estou pronto para preencher-me.
SORRIA
Um cara qualquer anda pela rua, apressado
De tanta pressa, esqueceu-se de me ver
Acabou trombando comigo
Papéis voaram pela rua
Fugindo da gente como pássaros
gritando por liberdade
Mal sabiam eles
Que seu dono era o escravo
E no fim, o homem me sorriu
Um agradecimento
Talvez o único sorriso que aquela pobre alma
Irá sorrir neste maldito dia
Nesta maldita cidade
E que depois venham os pecados da noite
Para lavar nossas almas
Depois de as entregarmos
Para um babaca que nos paga
O dinheiro do próximo trago
O verdadeiro sinal
De que estamos bem
Estamos bem, não é?
De tanta pressa, esqueceu-se de me ver
Acabou trombando comigo
Papéis voaram pela rua
Fugindo da gente como pássaros
gritando por liberdade
Mal sabiam eles
Que seu dono era o escravo
E no fim, o homem me sorriu
Um agradecimento
Talvez o único sorriso que aquela pobre alma
Irá sorrir neste maldito dia
Nesta maldita cidade
E que depois venham os pecados da noite
Para lavar nossas almas
Depois de as entregarmos
Para um babaca que nos paga
O dinheiro do próximo trago
O verdadeiro sinal
De que estamos bem
Estamos bem, não é?
BEM-VINDO AO CAOS
Você está na rua
Xingando todas essas
Bocas mal-beijadas
Uma seda, um copo
Do que mais precisa um homem
A não ser de uma noite a mais
Você está na rua
Bebendo vodkas blasés
A calçada é sua privada
E você questiona
“Onde estão meus amigos?
Temos ainda todas as noites pela
frente!”
Os loucos são medíocres
Quando tentam ser normais
E eles não te esquentam
Não queimam
Você está na rua
E alguém está dormindo
Não deveria ser assim
Mas quem você pensa que é
Para contrariar o caos?
Xingando todas essas
Bocas mal-beijadas
Uma seda, um copo
Do que mais precisa um homem
A não ser de uma noite a mais
Você está na rua
Bebendo vodkas blasés
A calçada é sua privada
E você questiona
“Onde estão meus amigos?
Temos ainda todas as noites pela
frente!”
Os loucos são medíocres
Quando tentam ser normais
E eles não te esquentam
Não queimam
Você está na rua
E alguém está dormindo
Não deveria ser assim
Mas quem você pensa que é
Para contrariar o caos?
COMO CONTROLAR O MEDO
Não o controle. Deixe-o livre.
Sinta cada gota dele suar
pela tua pele.
Olhe pra você mesmo
e se sinta ridículo, se possível.
Isso ajuda.
Agora faça. Mesmo com medo.
Estraçalhe-o com atitude.
Tenha em mente que tudo muda.
Você está vivo.
Você pode falar em público.
Você pode roubar um beijo.
Você pode andar na rua à noite.
Viva livre ou tenha medo
Se tudo der errado, a culpa é sua
E não há nada melhor
do que ter responsabilidade
Pelo o que acontece contigo
Vire quem você pode ser.
E o medo, coitado,
Não saberá com quem está mexendo.
Sinta cada gota dele suar
pela tua pele.
Olhe pra você mesmo
e se sinta ridículo, se possível.
Isso ajuda.
Agora faça. Mesmo com medo.
Estraçalhe-o com atitude.
Tenha em mente que tudo muda.
Você está vivo.
Você pode falar em público.
Você pode roubar um beijo.
Você pode andar na rua à noite.
Viva livre ou tenha medo
Se tudo der errado, a culpa é sua
E não há nada melhor
do que ter responsabilidade
Pelo o que acontece contigo
Vire quem você pode ser.
E o medo, coitado,
Não saberá com quem está mexendo.
AMORZINHO
Eu tentei falar de amor
Mas me engasguei com whisky
Tentei escrever seu significado
Com fumaça
Talvez seja melhor eu
Lamber seu corpo
Até que você ame
Poemas não servem
Para falar de amor
Se você pensa no que escrever
Eu tentei falar de amor
Mas não quis interromper seus gemidos
Uma mosca só tem
A própria sujeira e
As asas para cortar a noite
Enquanto a morte não vem
E se você deixá-la fazer isto
Então você sabe
O que é
Amor.
Mas me engasguei com whisky
Tentei escrever seu significado
Com fumaça
Talvez seja melhor eu
Lamber seu corpo
Até que você ame
Poemas não servem
Para falar de amor
Se você pensa no que escrever
Eu tentei falar de amor
Mas não quis interromper seus gemidos
Uma mosca só tem
A própria sujeira e
As asas para cortar a noite
Enquanto a morte não vem
E se você deixá-la fazer isto
Então você sabe
O que é
Amor.
AVC – AMADO VELHO COMPANHEIRO
Meu velho cai:
“Sorria. Levante os braços. Diga uma frase”
E ele: “Merda! Não é AVC! É hora de ir…”
Já estavam fechando o bar
e nós pararíamos de esquecer a vida.
Amanhã é dia de ressaca
Refri de limão e doses de domingo
Pra consertar o estrago.
Só não sabemos consertar
esta maldita agonia
que a realidade nos força a engolir
Mas temos um ao outro.
Quatro pernas bêbadas são iguais
à duas sóbrias
“Tchau. Eu te amo, filhão”
“Eu também”
Ele deve ter orgulho de mim.
Eu já aprendi como apanhar de tudo.
Já sei ser metade do homem
que ele sempre será.
“Sorria. Levante os braços. Diga uma frase”
E ele: “Merda! Não é AVC! É hora de ir…”
Já estavam fechando o bar
e nós pararíamos de esquecer a vida.
Amanhã é dia de ressaca
Refri de limão e doses de domingo
Pra consertar o estrago.
Só não sabemos consertar
esta maldita agonia
que a realidade nos força a engolir
Mas temos um ao outro.
Quatro pernas bêbadas são iguais
à duas sóbrias
“Tchau. Eu te amo, filhão”
“Eu também”
Ele deve ter orgulho de mim.
Eu já aprendi como apanhar de tudo.
Já sei ser metade do homem
que ele sempre será.
EM QUEM CONFIAR
Estamos presos
Nos nossos olhares
No nosso andar
Na roupa que vestimos
Estamos tão engasgados
Com uma maré de fúria
Que culpamos a platéia
Que nos julga, com suas personas
Mal vestidas e clichês
Tem alguém que abre um sorriso
E se diz longe das amarras
Enforca-se na própria ideologia
Me diga com quem você anda
Que eu te direi
“Ande mais”
Estes que não ligam para sua ressaca
Estes, e somente estes
Merecem respeito
E um pouco
De amor.
Nos nossos olhares
No nosso andar
Na roupa que vestimos
Estamos tão engasgados
Com uma maré de fúria
Que culpamos a platéia
Que nos julga, com suas personas
Mal vestidas e clichês
Tem alguém que abre um sorriso
E se diz longe das amarras
Enforca-se na própria ideologia
Me diga com quem você anda
Que eu te direi
“Ande mais”
Estes que não ligam para sua ressaca
Estes, e somente estes
Merecem respeito
E um pouco
De amor.
UM BRINDE
A vida é mais tragável quando você bebe. A janela do meu quarto ganhou um tom de carvalho. E eu gostava daquilo. Antes era marrom merda. Agora era carvalho.
A cama, bagunçada, ganhava um ar poético. “Na minha cama deixo minhas bagunças”, ou “bagunçaram minha cama e foi bom”, ou qualquer frase do gênero.
E dá-lhe whisky. Bebemos para saborear e bebemos para enlouquecer. Eu me sentia muito bem quando fazia os dois ao mesmo tempo. Começava com leves tragos: “bom whisky!”, eu pensava sobre aquela garrafa de 10 reais. E ia beijando o copo de pouquinho em pouquinho, como o corpo de uma mulher. Quando eu percebia que a vida é triste, o corpo de mulher se transformava em remédio. E quando a garrafa estava quase acabando, eu me dava conta que a janela tinha mudado de cor.
UM CÃO
Começou a tarde fuçando no lixo daquele mercado descendo a rua. Encontrou algumas frutas. Estavam ótimas: sem mau-cheiro, machucados ou partes podres. Após comê-las, seguiu rumo ao mundo.
A tarde, então, ficou vazia. E ele olhava o pouco povo caminhar em suas linhas (estreitas), sem entortar o olhar para sí. Um outro, de bom coração, deixou-lhe os restos de uma marmita. Havia arroz, batatas e cenouras cozidas. Agradeceu ao bom moço da maneira que pode. Afinal, era só mais um cão que bebia cachaça e mijava no próprio corpo para não morrer nas frias noites de Junho. E assim, sem mais, o moço se foi, sumindo no emaranhado de esquinas. E o cão, de destino traçado, sentiu um aperto no peito após a generosa refeição.
Deste dia em diante, ninguém mais viu (nem fingiu que não viu) o cão que virava latas em trocados.
A AVENIDA É UMA CRIANÇA
O túnel se estendia por quilômetros abaixo da avenida,
o qual era um amontoado de luzes brancas
e vermelhas.
O som era de gente, de jazz,
de estilo e histórias.
Tudo coberto pelo manto negro da noite.
Como uma garota que faz uma cabana
com seu cobertor e brinca com uma lanterna.
Os postes eram a lanterna.
Os anúncios eram a lanterna.
Os cigarros eram a lanterna.
E as janelas, ao longe,
escondendo as histórias mais belas,
as famílias que dormem cedo e
os amigos que nem dormem.
O casal que se ama
encostado na parede do imponente shopping.
Os mendigos sentados, existindo.
E eu, vendo a arte nascer
de cada concreto
que forma esta paisagem.
Se a cidade é nossa pequena filha
que tipo de pai nós somos?
o qual era um amontoado de luzes brancas
e vermelhas.
O som era de gente, de jazz,
de estilo e histórias.
Tudo coberto pelo manto negro da noite.
Como uma garota que faz uma cabana
com seu cobertor e brinca com uma lanterna.
Os postes eram a lanterna.
Os anúncios eram a lanterna.
Os cigarros eram a lanterna.
E as janelas, ao longe,
escondendo as histórias mais belas,
as famílias que dormem cedo e
os amigos que nem dormem.
O casal que se ama
encostado na parede do imponente shopping.
Os mendigos sentados, existindo.
E eu, vendo a arte nascer
de cada concreto
que forma esta paisagem.
Se a cidade é nossa pequena filha
que tipo de pai nós somos?
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