lembro meus traumas
e jogo dominó com eles
bebericando e empesteando minha sala
com quatro mil substâncias químicas.
"acho que preciso escrever"
fico nu diante da página em branco
que deseja faminta minhas palavras
e brocho.
volto pros meus traumas.
tento achar os culpados
dessa inexistência que persiste
fincada nos meus pensamentos.
a poeira que meus defeitos trazem à mesa
eu espano todo dia
com uma ferramenta feita de mentiras.
"eu preciso escrever agora"
fico burro diante da página em branco
e escrevo quatro palavras rápidas
como se fosse fácil deixar
a alma podre dizer o que sente
sem se esconder atrás de uma garrafa.
guardo as peças do dominó
e vou dormir.
"amanhã será diferente",
eu repito pro travesseiro
pela décima vez consecutiva.