eu não quero nada
querer é sintoma de vida
e estou tão vivo
quanto a ferrugem do portão
uma garoa fina e insistente
se espatifa no asfalto
pesadelo molhado
concordo com as gotas
sabe, antes eu gostava
agora é mal hábito
entenda alguém
pelo conteúdo de seu
cinzeiro
vou da cama pro sofá
do sofá para o chão
do chão eu não passo
faço do resto do dia
uma canção sem letra
nem melodia
apenas a batida
de um coração teimoso
vai ver ele sabe
de algo que não entendo
vai ver só sou feliz
quando não penso
de qualquer forma, cá estou
com a mão no queixo
encarando átomos nus
enquanto meus fantasmas se divertem.