Segunda-feira. Céu cinza, chão molhado. Não dá nem vontade de levantar da cama. Mas, se levanto, já procuro um meio de me livrar do tédio. Uma pena o tédio ser essa criatura de presas afiadíssimas, picando minha panturrilha sem querer largar o osso. Um bicho tão teimoso quanto quem vos fala.
Então a chuva continua. Aperta na hora do almoço (o que aconteceu antes?). Já não sei se espatifei a cara no fundo do poço, nem se há alguma forma de sair dele. Só sei que nele estou e a chuva veio me acompanhar.
Poderia aproveitar e limpar algumas coisas. Organizar o guarda-roupa, a gaveta de meias, os livros na estante. Dá até para mudar os móveis de lugar num almejo desesperado por mudanças. Talvez eu seja um imóvel.
Outra dica valiosa é olhar-se no espelho, no fundo das pupilas, e buscar o abismo que tanto encaramos. Escrever algumas palavras bonitas que não preenchem o estômago (amaria comer meus poemas).
Assim, espero ter ajudado a sobreviver aos terríveis ataques da mente quando se está preso na própria casa em dias de chuva.