Numa chuva torrencial, surgiram goteiras por todos os cômodos. Um fio do poste se soltou na esquina. Qualquer um que passasse ali viraria o omelete que eu esqueci no fogo outro dia.
Então a luz acabou e a única coisa que me restou foi ficar sentado no chão ao lado de uma vela e viver o momento.
Essas palavras estão saindo do meu corpo. E eu quero que você preste atenção nisso: eu como a vida pra cagar poemas. Tudo o que faço (e irei fazer) é merda. Muita merda pra mim e pra você. E eu realmente gostaria que você sentisse o que tô sentindo agora. Essa energia fluindo pelo meu corpo e a alegria de perceber que o que existe tá aqui do lado de fora das nossas mentes. Não existe "eu". Existe um amontoado de átomos que formam o corpo que interage com outros átomos até o universo deixar de existir. E o fato da luz ter acabado, de eu ter ficado sem internet, daquela pessoa ter saído da sua vida, daquele pastel que te fodeu o estômago, daquele fora tomado, daquele boleto não pago...Nada disso conta no final. É sério, eu não consigo explicar com palavras. E se você quiser realmente apreciar o que está prestes a aparecer em frente aos seus olhos, você vai ter que deixar sua mente de lado e ser dominado pelo agora. Pronto?
Vai com calma na tarde.
A hora mágica reflete azul e violeta
sobre nossas peles e
tá tudo bem.
Nós ainda respiramos e
respiramos profundamente até
sentir o pelo do braço levantar.
Há certas coisas não ditas que
talvez nunca o sejam porque
foram feitas pra serem sentidas.
E não há possibilidades;
o poema é quem o lê.
Eu não posso fazer muito mais
do que estou fazendo agora.
Tá dentro de você e
isso precisa sair daí.
Precisa EXISTIR, e
não ser mais um vão pensamento
se perdendo num mar
de preocupações inúteis.
Nós ainda respiramos e
cada gota no ar
preenche meu corpo
como se o alimentasse e
desse um empurrãozinho
pra eu ser o melhor que posso ser
como filho da vida.
E eu não posso fazer muito mais
do que me unir a essa vibe
que faz você descer até o chão
com a bunda pro alto enquanto
eu faço a dança do robô.
A tarde sempre acaba
magnífica.
O violeta vira preto,
do jeito que tem que ser.
E tá tudo bem. Mesmo.
Basta fluir com
essa sensação,
essa exata sensação
de ser infinito enquanto dura.
Um brinde ao amor
de todo dia
que passa despercebido
quando não reparamos
que não somos melhores
do que uma simples gota
no vidro da janela.