Eu vejo a cidade vazia e
os olhos fissurados, repetidos
pelos espelhos da janelas de
trens malditos.
Galhos secos mordendo e assoprando
a morte, flerte inútil
de falas mal pensadas.
Goiabas esmagadas, abandonadas
por um pé deprimido
de um conjunto habitacional
esquecido,
sangrando rosa e moscas
na calçada blasé.
Eu vejo o túmulo dos anjos,
o palco dos demônios.
Vejo anjos e demônios
polarizados.
Dez mil à direita,
Cem mil à esquerda,
e todos são atingidos
por balas cegas.
Vejo o ar de mentira
em cilindros faltosos,
silhuetas assombradas
pelos erros gigantes
de pessoas pequenas
com poder imenso.
Vejo o fim e o começo
misturados na mesma
ração.
Gente que morre de fome.
Gente cagando e andando.
Gostaria de não ver mais,
mas o que se vê é o que
se sente.
E o que se sente
marca pra sempre.
Um corpo apodrecendo
nas próprias cicatrizes.