terça-feira, 31 de março de 2020
CARTAS PARA O FIM DE TUDO 2 - ELA PARTIU
CARTAS PARA O FIM DE TUDO
sexta-feira, 27 de março de 2020
DUZENTOS
Sou um esquisitão negativo, mas só em palavras e doenças. Tô escrevendo isso num pico de alegria. Tô feliz com o resultado: duzentos textos em 5 anos, sem contar os que não publiquei ou os que não estão no blog.
Jamais me imaginei escritor, mas até que essa porra tá combinando comigo. Parabéns para mim. Se eu fizer uma coletânea gratuita, trate de ler pelo menos uma página.
Obrigado por estar aí.
Agora devolve meu álcool,
devolve meu álcool,
devolve.
ACABOU
que eu gostaria de usar
pra fugir de mim.
Mas aonde quer que eu vá,
lá estou.
Você é uma ótima perda
que eu odiaria ter.
Eu poderia fazer
qualquer coisa
pra esquecer.
Você é uma péssima escolha
que eu já fiz
antes de perceber.
Agora tá tarde.
Decepções dormem cedo.
Você disse que
era uma boa idéia
nos isolarmos
dos outros.
Não há ponto de referência.
Trancado num quarto
com o veneno
dizendo que me ama.
Correr pra saída de emergência
com pedras no sapato.
Você já foi algo.
Cicatriz de infância.
O MÁGICO E A REALIDADE
pelos buracos de um
muro de abstrações.
Vejo-o cantando sozinho
e mijando na parede
do banco.
Cuspindo no chão e
blasfemando o
deus noite.
Como se aquele modo de vida
fosse um truque de mágica.
Mas era só realidade.
Suas roupas rasgadas
como dilacerações
na própria alma.
Sinto inveja de sua liberdade,
mas sinto inveja
de qualquer um.
Há uma admiração
quase que inabalável.
E um ranço.
Uma pena.
Um desprezo.
Um louco na rua,
mijando e gritando.
Eu, normal, tentando ignorar.
Insanidade é subjetiva.
SINTOMAS
que eu queria botar
boas palavras aqui.
Coisas de amor e esperança.
Mas há duas semanas
que não fumo um cigarrinho
e a única coisa que sinto
é um ódio teimoso
como as chuvas de fevereiro.
E agora eu não sei se
posso confiar nos meus
sentimentos.
Estou percebendo detalhes
nas pessoas que só
servem de lenha pra
esse inferno.
As qualidades sumiram;
só vejo defeitos.
Em mim, em você, em todos.
Como aqueles velhos
ranzinzas que só
reclamam da vida.
Fico imaginando situações
de conflito.
Meu coração fica explodindo
200 vezes por minuto.
Um simples cigarro
resolveria todos os problemas
do mundo.
terça-feira, 10 de março de 2020
VAMO FUMAR UM POEMA
Gostaria de ler nicotina.
Que escrever fosse
como riscar um fósforo.
Que beijar fosse uma cópia
do ato de lamber uma seda.
Amaria ver fumaça
saindo dos meus versos,
fumegando forças falsas
feito o ar.
As cinzas escuras da tinta
preta que pinta a letra
da última sílaba.
Que você fosse meu cinzeiro
ou meus pulmões.
Silêncio.
O trago.
Te trago pra dentro do verso.
Depois te solto.
Foi embora.
Se misturou com o mundo e
ficou invisível.
SOZINHO NUM SÁBADO À NOITE
Os pisos amarelados com
o divino mijo dos
felinos, sem cheiro ou
amor.
Só o reflexo por baixo da
porta da sala.
Não chamem meu nome,
porque eu sei que
nada é por mim realmente,
e nenhum abraço é
em mim realmente.
Não sou bateria pro seu ego.
O diabólico mijo
escurece como o
pôr do sol
de um sábado.
As costas grudadas no
azulejo do chão e mãos e
ossos e temores e
adrenalina. Cheiro de nada.
Cheiro da própria pele.
Não me convidem pra sair.
Não sou aquecedor de solidão.
O mortal mijo
evapora de manhã
junto da água
que sai pelos meus olhos e
meu nariz.
TANTO FAZ (E ESSA É A MELHOR PARTE)
A gente pode caminhar
do ponto A ao ponto B
com pés insanos ou
cravar os mesmos pés
na areia e esperar
o sal do mar
entupir nossas veias.
A gente pode carregar
milhares de corações
ao meio, entregues pelos
ingênuos que ainda
creem no amor romântico.
Ou podemos guardar o
nosso num cofre dourado.
A gente pode trabalhar
até virarmos pó e então
ração canina.
Ou podemos lamber o céu
todos os dias equanto
nos jogam tomates podres e
gritam "PARASITAS!"
e nossos colchões são
queimados por gasolina e ódio.
Não importa o que façamos;
a punch line é sempre a mesma.
E, com sorte, quem ficar vai rir
de tanto chorar.
segunda-feira, 2 de março de 2020
DESABAFO DE UMA MENTE CANSADA (E INSTÁVEL)
Toda vez que eu acordo mal
sem motivo algum
é porque eu sei
que preciso escrever.
Ou fazer alguma merda
que me destrua lentamente.
Na realidade eu só faço merda
porque sou dependente
de me sentir bem.
Mesmo que custe aos
que estão próximos de mim.
Porra, quantas amizades
eu queimei junto
de uns tragos?
Mas não resta em mim
muito além disto.
Meio que já tô cansado dessa
obrigação de ser feliz
o tempo inteiro.
Ou de me esconder
na boa educação que
meus pais me deram.
Só tenho uma chance
de valer a pena.
Uma bala no revólver e
três alvos:
meu crânio,
seu peito ou
o céu, pra dar a largada.
Prefiro a terceira opção,
mas não descarto as
outras duas.