olhos fechados à feiura do dia
garrafa que se esvazia
em demasia limpa a rachadura
a queimadura por chamas alheias
as cicatrizes mais felizes
são invisíveis
por mais estranho que pareça
acho que não gosto de você
mas gosto do jeito que você me vê
vendo assim sou cego comigo
ou talvez eu tenha me visto
o bastante pra ser discrepante
o que sinto que mereço
e o pouco que me deixo
olhos abertos às ranhuras do disco
a canção se repete no pior verso
naquele que escolho estar só
sem ter ninguém por perto
tenho um cérebro linguarudo
e um coração surdo
uma alma esfarelada
um corpo com vontade de tudo
a verdade é rara e fácil de esquecer
a cura é dolorosa
mas tudo nessa vida vai doer
e agora, fazer o quê?
vou aceitar ser o ouriço
que pra se esquentar
se machuca em outros espinhos.