quarta-feira, 26 de abril de 2023

APRENDENDO A (ME) AMAR

amor é gostar de qualquer espelho.
mesmo que sejam os olhos
da pessoa amada.

aprendi algumas coisas
fumando na força do ódio
e bebericando corantes alcoólicos.

ficar só na companhia de si.
jantar paixão com as paredes
e a própria respiração.

apreciar o relógio no rosto.
cada ruga um ano.
expressões do tempo.

só depois de me entender
eu enxerguei você
como deve ser.

juntei perfeições e defeitos
e guardei no mesmo peito.
este aqui, aberto pra ti.

só assim nos gostei.

abraço que sorri.
beijo cicatriz.

invejo o infinito
que pode te ver feliz
quando quer.

mas sigo meu caminho
te estendendo a mão.
venha se quiser
andar um tanto comigo.

SÓ VAI

joga esse passo pro mundo.
assim nasce toda jornada;
no primeiro metro.
mesmo incorreto.
cair é marido do levantar.

tem amigo pra sempre
que vai se separar pra nunca mais.
cada um segura seu conto.
siga em frente e ponto.

esses cruzamentos
são pavimentos
pros seus sonhos.

tente e erre.
não desespere.
supere.

um até logo pra quem já desceu.
minha parada é a seguinte
e continua seguindo.

sou meu pilar, minha base.
me sustentei até hoje
resistindo o atrito do tempo
e a corrosão tóxica da apatia.

construo no agora
meu próprio abrigo.
descanso em mim e
acordo pra vida.

dê o próximo passo.
assim continuam as jornadas;
um pé na frente do outro.

COMO ESCREVO MEUS POEMAS

sento e batuco meus dedos no teclado
sem encostar nas teclas
até que algo possa ser dito.

bebo e fujo do mundo
sentindo uma fração de tudo.

lembrete de poesia;
aquele dia que nunca mais será.

perco minha identidade
quando busco uma personalidade
que agrade
alguém menos importante
que meu reflexo.

nem toda pessoa sabe ser gente.
por isso permaneço em casa
com as roupas velhas no corpo
enquanto as novas mofam de ansiedade.

sento e negocio com o acaso
alguns versos subconscientes.

aperto a descarga.
fluxo de cantinho do vale
escorre as merdas que sinto
pra tela do computador.

lembrete de poesia;
ritmo sem rima 
quebrando o flow.

hoje terei algo para vocês.
uma linha minha 
sangrando tinta.

sábado, 22 de abril de 2023

GATOS SOLARES

seus pelos no meu colo
apagam meu cansaço.
olhe nos olhos de um gato
e entenda sua própria ignorância.
eles sabem o que desaprendemos.
me lembra uma velha história 
de viver a vida
como a vida deve ser vivida. 

suas patas no mesmo chão 
onde já derramei tanta situação.
um pano pra limpar
pegadas teimosas. 

cantam pra gente aprender a ouvir
que bicho não deixa de sentir.
um dia talvez sejamos
tão plenos
caminhando mansos
nos tropeços da estrada
(essa que não se acaba
só porque termina). 

a língua áspera lixa minha pele.
são retoques que esqueço.
eles sabem mais das coisas
porque seus olhos veem o dia
seus ouvidos escutam o dia
suas bocas devoram o dia
suas garras arranham o dia
e o meu sofá
como se tudo fosse
uma coisa só. 

e talvez seja. 

gatos solares esquentam a parte minha
que deixei esfriar no frio do mundo.
ainda sou capaz de amar.

quem me dera ronronar
verdadeiramente
meus impulsos. 
pulando telhados
caçando ratos
sem me preocupar
correndo às margens das impressões.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

BICHO RIDÍCULO

todo mundo é bicho ridículo.
somos todos bocós
com pelos em lugares esquisitos.
pra que levar a sério
se estar vivo é motivo pra sorriso?
 
gaguejei frases fluídas
e troquei os horários.
você sempre tem a resposta certa
e eu a pergunta errada.

tropecei nos meus descaminhos.
não consigo ser tão descolado.
ele é tão desapegado
quanto a dignidade
sendo apreciada
pelos vermes da terra.

ora, cair é normal
nada de uma gravidade absurda.
você cai e levanta
é assim que se aprende a andar.

mais um troco pro coração.
aumento meus atrasos.
esse tempo já não é meu
(vendi na promoção).

gases em voz alta.
a dança do dinossauro
que não foi convidado
pra extinção.
meu copo favorito quebrado.
meus gatos miando pela ração.
os foras que levei
e os foras que dei.
tudo numa linha torta.
não importa, repita comigo:
não importa!

quero falar, quero gritar
e espernear que a vida
está fluindo em mim 
como sangue
e como ar
e como amor
e que nada é maior que isso.
nada é mais valioso
do que ser besta 
e falho e todo.
tolo e verdadeiro.
somos tontos, e ponto.

essa é nossa deixa.

ISSO NÃO É HORÓSCOPO

não é pra combinar com você.
eu não te sei
não te sou
não te sinto seus sentidos.

só sei de mim
e de mim amplia
uma visão afunilada do acaso.

isso não é horóscopo.
não sou astrólogo.
não conheço a história
do início ao fim.
só sei sentir
e poucas vezes
pensar.

não é sobre você 
querida estrela caída
que ainda tenta fazer orbitar
as outras pedras.
nem é sobre mim também.

é sobre a porra da Arte.

A DANÇA

esquecemos como se brinca de viver.

ainda tô me recuperando.
meu remédio é paliativo
espuma num copo de vidro.

quem roubou meus últimos anos?

os pés exaustos choram dores
suportando amores de faz de conta
num peito exaurido
chiando toxinas
as dos outros e as minhas.

quero ver quem vai dançar
mexer e deixar pra lá
mesmo que não tenha música .

a vida é melodia única.

quero ver quem vai dançar
vestido de absurdo.
ser rio pra limpar seu mundo.

não sei quem me chamou
mas mesmo assim aqui estou
corpo alma febre trauma
numa festa renegada
de condução vendada.

tente manter a calma.
já pensaram muito nisso.
já vendi madrugadas pro assunto.

é só uma dança.
não leve tão à sério.
não castigue sua criança
só porque o mundo te fez velho.
aproveite o processo
porque logo é só regresso
ao nada das notas caladas.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

VAMOS BEBER

copos vazios não trazem
boas lembranças.
vamos enchê-los de cerveja
e pagar nossa fiança
pra sermos livres uma só noite
daquilo que mais tememos.
pra ser abrigo e ser a foice
que ceifa os nossos medos.

você já disse que talvez.
então vamos até o meio do caminho.
já virei, é sua vez.
dope sua alma com muito carinho.

um brinde ao acaso.
o papel que desfaço.
o espaço cheio de um maço
tem tanto significado.
eu não me largo hoje.
se for pra ficar sozinho
prefiro fingir sorriso
quando você beija minha boca
sem me conhecer.
sem me entender.
pra que pensar
se posso viver?
pra quê, também?
pra quê?

copos cheios não trazem
boas histórias.
vamos esvaziá-los
criar insanas memórias.
pra sermos livres uma só noite
daquilo que cobram a gente.
pra ser amigo de uma escolha
ser aquilo que podemos.

você já brinca com o bar.
essas são nossas paredes.
vai ser tão fácil viajar.
a loucura é meu deleite.

cérebros gelados 
são mais desapegados.
vamos beber
até esquecer
meu corpo excitado
com seu descaso.

venha me conhecer.
tente me entender.
pra que pensar?
se pra morrer temos que viver?
pra quê, também?
pra quê?

copos na metade são o começo do fim.
sou pessimista sim.
sou otimista assim.

segunda-feira, 3 de abril de 2023

TRIBUTO À SUJEIRA

tô tão feliz
porque meus amigos me esqueceram.
e eles estão bem.
tá tudo bem.
comprei roupas velhas num brechó.
amanhã compro um novo caixão
quando o sol se tornar
um buraco negro.
apague essas velas.

tá tudo na minha cabeça.
você quebrou seu espelho.
você é tão inútil quanto dizem ser?

encontrei meus amigos
fodendo meus amores
e eu não me importo
por fora.
já tô louco de inseticida.
tô tão sozinho.
sou culpado pelo o que dizem.
te encontro aonde os desejos
se tornam bons.
talvez no jardim dos sons.

tô ansioso e com tesão
pra ser rejeitado
por ser tão feio
quanto você.
mas eu encontrei a benção
na minha cabeça raspada.

eu não vou quebrar
porque te gosto.
não vou quebrar
porque alguém me ama.
eu tô tão feliz.
meus amigos não existem mais.
estou há tantos anos
bebendo.
eu não vou quebrar, te juro.
sou uma pilha radioativa
expandindo minha energia.
lítio pra quem amo.
pérolas pra quem deixo.

O QUE GOSTO DE VERDADE

é essa bebida de novo.
bebida que se bebe sozinho
mesmo na presença do vizinho
amarga mais rápido na garganta.
deixa o estômago pro destino
e o fígado é sacrifício
prum sorriso mais fácil.

de qualquer forma
vou dizer coisas erradas pra você.
então é melhor errar
naquilo que gosto
de verdade.

tudo o que não te falo
vira tudo o que queria te falar.
mas de alguma forma me calei
deixei pra lá.
varri pra debaixo do tapete sujo
da minha sala
de sentimentos suprimidos.

será que é por isso
que meus espelhos
são tão ridículos?

vamos caminhar juntos.
você brilha tanto.
vamos queimar juntos.
do nada estamos loucos
numa esquina que já é nossa
mas que nunca é
e nunca será.

vai lá ser o estranho
que continua lutando
imortal
numa batalha sem sobreviventes.
seu dedo aponta minha cara
e minha cara diz tudo.
seja bem-vindo
ao meu mundo. 
vou continuar errando
naquilo que gosto
de verdade.

JÁ PASSOU

trago o amargo 
da falta do seu doce
e solto uma fumaça livre
daquelas que você nunca viu.

vou fumar mais uma história
dos maços passados.
marcas que me enojam
marcas que me matam.
já passou
mas ainda está aqui
no meu pulmão
como alcatrão e nicotina.

quantas substâncias tóxicas
haviam na nossa rotina?
quem vai me devolver os meses
que eu tentei parar
de você?
e o que vai me curar
do que inalei
respirando seus dias
nos meus
como se suas nuvens
fossem mais importantes
do que as minhas?

tá, já passou
mas nem tanto.
tão pouco.
tô pouco
tô louco
tô rouco;
pigarro de palavras não ditas.

espero que esteja bem
mas não tanto.
bem pouco.
um troco
que sobra nos bolsos
da calça suja.

fumo as incoerências
mais malditas e
aquela fita que não resolvemos.
a outra que talvez.
a outra no meio.
desvaneio na pausa de tudo.
sou dependente de mim.
hoje uso suas desculpas
como cinzeiro.

já passou, querido coração.
já passou, fodida maldição.

NEM VEM, MEU BEM

eu não te orbito.
não orbito ninguém.
nem vem;
eu danço o espaço
que me convém.

eu saio pra conseguir entrar
no que desejo ser.
é bem difícil aparecer
quando te querem além
daquilo que está disposto.

eu sinto o osso da minha alma
ficando oco
quando preciso meter o louco
só pra ter um pouco
de mim em nós.

que venham todas as ruas então
e todas as suas loucuras.
eu sou a própria insanidade
buscando alívio em reciprocidade.

é um desaforo
não me entender
nos dias que não sou
pra você.

não te perguntei.
deixa que eu sei
me comportar
nas minhas regras.

todo corte é trégua.
a guerra entre minha alma
e aquilo que se espera
de um adulto responsável.
um brinde especial
com copo descartável.

eu sou isso.
um pouco de tudo 
o que me fez.
minhas cagadas
e o resto todo
me formando
um ser e tanto.
então não me venha
com seus planos.
já me garanti nos meus anos
florescendo na lama dos enganos.