domingo, 27 de dezembro de 2015

O POEMA MAIS RIDÍCULO DO MUNDO

“Como você consegue escrever tanto?”, ela disse.

“Eu vou comendo a vida e
cagando poesia; é natural”, eu disse.

Ela estava na minha cama, nua,
Enquanto eu digitava no computador.

“Pronto. Terminei. Veja o
Que você achou...”

Ela leu. Depois leu de novo.

“Tá uma merda”, ela disse.

Estava mesmo. Publiquei no meu
Blog que ninguém visitava.
Aquele poema era feio demais.
Decidi desligar o computador e
Tentar outro dia, depois de
Fazer amor.
Quem sabe assim eu faria algo
Cheiroso.
No dia seguinte escrevi sobre
Rosas e abelhas.
O poema mais ridículo do mundo.
Algo como:

“As abelhas amam as rosas
E as espalham pelo jardim;
Regar-te a alma incólume em amor
Pra que floresça um sorriso enfim

O sol deita-se em véu esmeralda
Na casa das paixões, a longa distância
Que eu percorro até teus abraços
Os beijos que na cama dançam

Abraça-me num silêncio
Secam-me as lágrimas moídas
Que te gritam na despedida
Ansiando teu corpo em minha vida”

Ela gostou do poema. Deu-me um
Beijo, um aperto.
Todo mundo é ridículo
Quando está apaixonado.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

SOBRE ISTO EU NÃO QUERO FALAR

“Por que você não me ama?”

“Eu amo você.”

“Ama nada!”

Sim, ela estava certa. Eu não amava
Nada além das paredes e da cor preta.

“Até quando você vai continuar essa palhaçada?”

Iria continuar até ela se cansar de mim.
Todas se cansavam, só que com ela seria
Diferente.
Não iria tentar agradá-la com um “eu” que
Não existe.

“Eu sou isto daqui, mulher.
Sou minhas páginas em branco, minha
Ausência, meus pêlos na barriga,
Meus peidos embaixo das cobertas,
Minha folga, minha liberdade,
Minhas banhas.”

Ela me olhou.


Há quase um ano que ela não se cansa de mim.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

FELIZ DIA 25

Nossa árvore foi montada de sucata.
Seus galhos são amarelo-ganância.
Pequenas indiferenças
Servem de enfeite
Junto às luzes laranjas
Que muitos não têm.
O topo da árvore pega fogo.
Morre gente, morre bicho
Morre cultura.
Na base há caixas de papelão
Serão pegas por alguém
E vendidas por algumas moedas.
Cada homem é uma estrela
E cada estrela é da morte.
Cada morte um presente
Para escapar das vésperas
Do inferno.
Você tem sido um bom garoto?
Comeu toda a lata de lixo?
Muito bem! Papai Noel
Trará suas pedras
Pra você fumar.
Quando você quiser agir
E abraçar alguém
Não espere a meia-noite.
O relógio não liga pro homem,
Não se importa...
Os bancos se importam.
As lojas, a televisão,
O governante.
Até o deus-sol, que morreu
No seu aniversário e
Renasceu profeta.
Se é falso ou não, siga o amor
que ele prega.
Mesmo com toda crueldade.
E não esqueça,
Depois de tudo isso, que

Todo mês tem um dia 25.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

UM CONTO DAS COISAS

  Ele era um cara interessante. Cansou-se da mesmice, pôs os pés na estrada. Sem passagem de ida e muito menos de volta. Passou por aí, por lá, por aqui e por onde fosse. Viu gente, viu tantas coisas que enciclopédias sentiam inveja dele.
  Voltou numa sexta-feira. Bebemos em um barzinho, em um centro qualquer de uma cidade qualquer.
  - Eu vivi, meu amigo – ele começou. – eu acho que aproveitei tudo o que tinha pra aproveitar nessa vida. Poderia morrer agora!
  - Sério?
  - Nunca estive tão certo disso. Eu vi o sol nascer na neve, no deserto, nas praias e nos prédios. Vi vulcões, tornados, tempestades e terremotos. Conheci todas as religiões, todas as culturas. Não há mais nada para ver aqui.
  Pedimos outra garrafa de cerveja. Custava sete reais.
  - Eu queria ter sua coragem, cara – eu disse.
  - Não é questão de coragem; é de necessidade. Eu aproveitei a vida.
  - Parabéns, amigo. Estou orgulhoso.
  Bebemos mais um pouco. Ele pediu um cigarro meu. Custava sete reais o maço.
  - Eu vi tanta coisa, amigo – ele confessou – mas ainda não entendi o propósito da vida. Tantas religiões diferentes, pregando coisas diferentes, motivações diferentes... Não sei se tenho que lutar, se tenho que orar, se tenho que amadurecer o espírito...
  - Você tem que me passar o isqueiro...
  Ele passou. Acendi meu cigarro.
  - Tantas coisas eu vi. Vi a morte, o amor, a escravidão, a fome, compaixão. O que é certo? O que é errado?
  - Errado é você acender o cigarro do lado contrário...
  Olhou para o filtro que queimava e soltava um cheiro de papel higiênico queimado.
  - É tudo tão complexo, tudo tão complicado e tão vasto. Acho que a vida não cabe em mim. E quando eu paro para pensar na minha viagem, sinto que, no fundo, ainda não estou completo.
  Não prestei atenção no que ele estava dizendo porque uma ruiva bunduda e tatuada passou olhando para mim. Essas oportunidades de flerte JAMAIS devem ser desperdiçadas.
  - O que você disse? – perguntei.
  Ele ficou me olhando com cara de bosta. Era tão infinito, mas ainda assim era um homem, que morreria (com sorte) aos oitenta anos. Ele mijava, cagava, andava e falava. Tinha dedos, unhas, pelos no nariz e na bunda. Era tão humano quanto eu, não importava o que ele fizesse. Estava vulnerável às mesmas coisas que eu. Os outros o viam como uma divindade; eu o via como um cara interessante, que viajou o mundo e viu coisas.
  - Sinto inveja de você – ele contou – você é tão simples.
  - A vida é simples. Você vive e morre e faz coisas no meio. Pronto. Quer mais uma cerveja?
  Pedimos mais uma garrafa. Essa ele pagou; custava sete reais.

FODER É BOM

Saia da minha cabeça e
Entre na minha cama
Prefiro ter seu corpo
Para lamber
Do que seus beijos
Para recordar
Eu quero chupar tudo de você
Tudo mesmo
Todo fogo, todo o stress
Toda a tristeza
Mas não vamos falar disto
Aliás, não vamos falar
Que isso seja um monólogo
De dois amantes que viraram um
Com gemidos poéticos e
Toda a graça dos nossos órgãos
Penetrando, penetrando, penetrando
Até nós esquecermos
Que somos mortais
E que ainda estamos distantes.
Quando você se for, por favor
Feche a porta e volte para

Minha cabeça.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

DESCULPAS AOS MEUS QUERIDOS (E À MIM)

Eu sei como
Magoar pessoas
E essa é a habilidade
mais inútil de todas
Magoei uma amiga
um primo e uma mulher
Magoei minha cama, minhas paredes
meus cigarros, meu café e
meus poemas
Não me faça te magoar
É como dar um soco
Numa parede de pedras
E limpar o sangue com álcool
Não me obrigue a fazer isso
Assino essas obras tolas com
lágrimas
Não traga o meu filho da puta interior
pelo bem dos nossos momentos
Eu queria saber fazer
silêncio
Queria que o mundo se calasse
Que a desigualdade não existisse
e a maldade fosse fase
Largada nas infâncias dos fetos
Para que não fosse preciso
Saber o que é mágoa.
Queria saber voltar no tempo
e morrer todas as vezes que
fui um idiota
Mas aí eu não aprenderia nada
E não entenderia as coisas
Me perdoe por ser burro
Me perdoe por ser violento
estúpido,
mentiroso,
Hipócrita, tonto, chato, viciado...
E cá estou eu me magoando!

ALMA XXX

Estimule o clitóris da sua alma
Lamba-o, toque-o
Babe nele
Com carinho; é sensível
Mas vá até o fim
Chupe-o até sua alma suar
Até ela não aguentar mais e
explodir
Aproveite o momento
Sua alma é sua parceira
de eternidade
E você é o corpo, a língua,
Os dedos.
Não seja egoísta
Não fique se masturbando em materialismo, em coisas fúteis.
Dentro do seu carro moderno com
suas roupas novas.
As pessoas não sabem fazer a alma gozar
E estão todas carentes.
Todas tristes.
Uma boa trepada com a alma
Desintoxica, reanima.
O squirt dela vai escorrer até o
seu cérebro
E te fazer gostar da vida.

MANCHANDO CONFISSÕES

Você já se confessou?
Eu me confesso todos os dias
Nos abraços
Nos prédios que olho
Nas mentiras
Minha onisciência
É limitada aos meus erros
Que eu apago a cada trago
Tá tudo meio borrado, sabe?
Tudo sujo, uma grande mancha
Preta e sem graça
Poderia ser um poema,
Poderia
Sei fazer belos borrões
Isso seria arte
Seria vendida por milhões de euros
Numa exposição na Europa
“Confissões de uma mancha”

Desculpa, estou blasfemando
Ante a escrita, minha pastora
E nada me faltará
Quantos tragos, senhor?
Quantos tragos para

Pagar pelos meus pecados?