segunda-feira, 25 de julho de 2022

FECHANDO A CONTA

eu não sei quanto que deu.
junta as alegrias, faz vaquinha 
bota na conta
pede uma porção de fritura
e um sachê de loucura.

espero em vão que não acabe.
acho o pôr do sol 
divinamente melancólico
e os portões fechados
da estação
uma merda.

só mais um pouco disso
um pouco de cada um.
o trago de conforto
a risada inesperada
a cadeira vaga
conversas de mais ou menos
e pessoas que não tomam atitude.
"faça o que tu queres".

podíamos deixar tudo pra lá
e viver só neste momento
onde esquecemos
o que não vale a pena 
ser lembrado agora.

abre a latinha
bebe o corote
a garrafa vazia
encosta na guia.
um balde gelado de emoções.

eu não sei quanto que devo
mas sei que valeu a pena.
a alma acena
vai embora o caminho inteiro
sorrindo e dormindo
encostada em um ombro
parceiro.

VOCÊ É ESPETACULAR

gostaria que você se visse
com meus olhos.
você tem gosto de alegria
e eu queria que você durasse
a vida inteira
sendo vivo do jeito que é
GOSTANDO de ser do jeito que é
GOSTANDO de viver
nessa pele, nessa alma
nessa terra.

você é espetacular.
eu poderia te assistir
comendo pipoca
bebendo uma coca
e por cada hora
te aplaudir com 
todas as minhas mãos.

é porque você é a melhor
versão de você
a única que existe
tão rara quanto a vida
pode ser nessa imensidão
de pedras bêbadas e
estrelas narcisistas.

seja você porque só você
pode ser você.
e essa é sua contribuição
para a gente, para a existência.

mesmo que você não acredite em mim
acredite em você.
repita o que te disse
para o espelho.
faz muita diferença.
você vai ver.

TOSSE

um mal-estar persistente
uma memória persistente
saudade grudada nas 
paredes do peito.

tentei beber xarope.
soltei inseguranças na pia
e um pouco de desgaste
ralo abaixo.

o corpo luta
arde em febre e desejo.
o que eu quero o passado
tomou dos meus braços.
agora eu tusso quando
olho o espelho
quando caminho sozinho
quando é segunda-feira
quando o domingo morre
eu tusso em cima de tudo
contaminando pedaços de mim
com partes estranhas de mim
profundas e escondidas
desesperadas alcançando a
superfície da minha 
pele carente.

miasma que cobra caro.
traímos nosso potencial
perdemos algo sem preço.

é alergia ao dia
ao mesmo dia de sempre
às mesmas conversas e
às mesmas histórias e
ao medo doloso.
um peso teimoso
que toda gente carrega.
mas agora usamos máscaras.
mal dá pra percerber
que estamos na mesma.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

DETALHES

eu sou um detalhe e
você também é, 
tão pequenos quanto o tempo
que leva pra piscar 
quando a poeira entra
nos olhos.

eu vejo as asas do urubu
secando ao vento depois de
um voo de morte.
aprecio a tinta rachada
do prédios rabiscados
da Cohab.
eu sinto o sangue pulsando 
do coração à imaginação
o corpo tão são quanto as
folhas das palmeiras
e o choro da criança
e a trilha de formigas
e a brisa que amansa
a mente do parceiro
o verde em seus pulmões.

eu tenho carne e histórias.
eu sou carne e memórias.
prisioneiro do agora.
artista do depois.

sou aquilo que admiro
eu admito, vejo o infinito
em cada doce de sorriso
que você me dá.

é preciso ser feliz
apenas olhando a palma da mão
pra ser feliz com qualquer
outra distração.
eu me distraio de vida.
a beleza é prestar atenção.

DIFÍCIL

tá difícil ser.
melancolia pixada 
nas paredes da pele,
nos olhos cansados,
músculos de choro bombados.

eu levo a sério cada fração
de pensamento.
o sorriso guardo enferrujado
no bolso da jaqueta para
ser usado 
quando os erros tentam aparecer.
os meus são sempre maiores.
cansei de errar não sendo
aquilo que sou 
quando grudo minha testa
no azulejo do banheiro
numa ducha que não esquenta
a água direito.

tá difícil ser
e eu já fui tanto,
tanto, tanto.
mas toda vez que tô cagando
há algo para melhorar
em mim, no mundo,
no meio-termo de tudo.

viver é insatisfação.

eu não faço nada.
reclamar é fumo, é pó.
é uma caminhada viciada
às biqueiras do nada.
hoje a droga do amor tava em falta.
uma hora chega. calma que passa.

tá difícil ser.
é que não ser está fora de questão.
a escolha já foi feita por nós.
é tudo o que temos.
ser dificilmente é fácil.
mas algum dia será.

AMOR PRÓPRIO É O PRÓPRIO AMOR

hoje eu escolhi ficar sozinho
embora muitas vezes não seja
por escolha
mas hoje eu decidi
que me amaria
porque sou a melhor pessoa
que irei conhecer.

sempre estive ao meu lado
sentindo em mim as minhas dores.

eu vou me amar solitário 
como o último cigarro.

elogio ao espelho.
costume de ser eu.
posso até ser com as luzes apagadas.
me carrego pela terra
com a pele cansada 
e pernas apaixonadas
e mãos que tremem suadas
e todos os sentimentos que couberem
numa mente acelerada.

eu vou ser eterno comigo
como o escuro é para as estrelas.
pois eu sou tudo o que conheço.
tudo que posso ser agora.   

gostar de mim para gostar de você.
de verdade.
amor próprio é o próprio amor.

então sim, 
hoje eu escolhi ficar sozinho
e me amar como o para sempre
de uma foto.

EU CAÍ

caí na faixa de pedestres e
minhas coisas voaram 
livres para serem as coisas
do mundo.

caí de frente ao bar 
debaixo de sorrisos 
que encarcerados 
são tampados com as mãos.

caí de mim sobre o tumulto
no vai e volta de tudo. 
caí de todos para minha cama
parasitando a própria vida
eu vi o que significa
a perda de tempo.

só não caí na real.
doce imaginário que nutre
meus sonhos joviais e teimosos
isso não cai de mim.
ninguém me tira.

meus sonhos são de minha 
responsabilidade. 

e que eu caia tantas vezes.
é a Terra querendo me abraçar.
um dia, querida. um dia.
hoje não.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

CALMA QUE PASSA

só está esperando passar
caminhando pelo tempo.
a gente podia fazer algo
pra animar algumas noites.
cabeça pesada.
nenhuma idéia.
não dá pra sentir o gosto
nem daquilo que gostava.

calma que passa
pois muito já passou.

você tosse persistente.
remédios alcoólicos.
esquecer também é cura.
mas a verdade nua e crua
é que esquecer, jamais.
tenha calma e sente aqui com a gente.
vamos brincar de conversar.
vamos ver quem tem mais a dizer
e quem finge escutar melhor.
quem ri por último
só demorou pra entender a piada.

calma que passa
pois muito já passou.

acelera os passos no compasso do coração.
nada mais importa
mas tudo é importante.
só dá pra seguir adiante.
você rasteja pelo tempo.
a gente podia conquistar o mundo.
agora temos febre
ao sair de casa.

calma que passa
pois meio que tudo
está sempre passando.

DESAPEGO

quando não quero 
deixo de perder.
quando espero
desespero.

é desapego a nova moda de ser
não desejar, não entreter.

sobra um espaço tão opaco que tudo vê.
sobra um tempo descompassado pra perder.

não acho errado não querer viver
(ontem eu não quis).
mas é tão pesado desejar morrer.
não quero te rever
de olhos fechados.

é o desapego de várias faces
nas várias fases
de se conhecer.
hoje consegui pensar menos em você.
eu até consegui
desligar a TV

para escutar o que mente a minha mente
para eu mesmo e para toda essa gente 
tão indiferente e apegada
a alguns segundos de nada
e as tolas palavras.

descobri que ser livre é deixar voar
e deixar a gaiola do peito
de portas abertas.

E se acabar nisso,
ah, meu amigo!
eu não ligo 

mais.

quinta-feira, 7 de julho de 2022

BALÃO

toda vez que um balão solta fogos
eu penso que são tiros e
penso nos tiros
que não nos mataram
então eu volto pro que estava fazendo
o que era nada provavelmente
ou alguma coisa na
metade das vezes.

gosto de ver o balão subindo
e ficando sozinho
no escuro do céu noturno
como se fosse
meu coração no meu peito
mas ai eu lembro
que tenho pulmão também
pra respirar fundo
e deixar a melancolia
pros domingos.

aí cai cai balão
na onde eu não sei
balões são sinais
alguém vai se foder
espero que não seja eu
e muito menos você.