Estamos no quarto e agora
é natural que
aconteça alguma coisa.
Já pagamos a noite e
não há mais trem.
Voltar pra onde, também?
Vem o lábio no pescoço e
o ar sai com pressa da garganta.
Ofegante, agora nem adianta;
o corpo quer
o corpo manda.
Manda as mãos alcançarem o zíper.
Manda o dedo sentir pulsando
abaixo da cintura.
Manda as bocas se encontrarem,
as línguas se entrelaçarem.
E a cama que se prepare.
A bunda leva um tapa,
fica a marca.
"Ei, me amarra?"
E chupa, chupa, chupa
até o quase.
Então para, sorri,
brinca com a pele,
aperta firme,
"Quer gozar?"
Água, banheiro, cigarro.
A noite se despede.
O cheiro do fato
gruda nas paredes do quarto.
As mentes adormecem, esquecem
suas insignificâncias.
Um corpo não esquece o outro.
Vira saudade, lembrança.
Não adianta;
o corpo quer,
o corpo ama.