sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

NOTIFICAÇÃO

Você reagiu à minha história.
Eu reagia ao 
calor infernal da quebrada.
Então o suor de transpiração
virou suor de emoção.
Senti a diferença
entre os cheiros dos hormônios.

Tá quente mas eu me grudaria em você.
Me cobriria de você.
Me masturbaria debaixo de você.
Quer pagar pra ver?

Tremendo a mão
olhando a tela.
Felicidade em parcela.
essa conta é do
meu coração
que vibrou na notificação.
Ah, não!
Ah, não!
Apaixonado de novo. 
É osso!
eu só me fodo
quando fico bobo
esperando um pouco
mais de atenção.

Inicio o papo
fico no vão da resposta.
Fico no não que eu já tinha.
Acho que é sobre isso.
Tá tudo bem?

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

O CORPO AMA

Estamos no quarto e agora
é natural que
aconteça alguma coisa.
Já pagamos a noite e
não há mais trem.
Voltar pra onde, também?

Vem o lábio no pescoço e
o ar sai com pressa da garganta.
Ofegante, agora nem adianta;
o corpo quer 
o corpo manda.

Manda as mãos alcançarem o zíper.
Manda o dedo sentir pulsando
abaixo da cintura.
Manda as bocas se encontrarem,
as línguas se entrelaçarem.
E a cama que se prepare.

A bunda leva um tapa,
fica a marca.
"Ei, me amarra?"

E chupa, chupa, chupa
até o quase.
Então para, sorri,
brinca com a pele,
aperta firme,
"Quer gozar?"

Água, banheiro, cigarro.
A noite se despede.
O cheiro do fato
gruda nas paredes do quarto.
As mentes adormecem, esquecem
suas insignificâncias.

Um corpo não esquece o outro.
Vira saudade, lembrança.
Não adianta;
o corpo quer,
o corpo ama.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

JUVENTUDE

Essa ponta salvou
o que o corre levou.
Só que o vento apagou e
eu sei que você roubou
meu isqueiro.
 
O goró ali é mais barato.
Faz a intera pra vida.
A vida tem gosto de baunilha.
Toda hora merece ser aplaudida.
Uma ideia ridícula e linda.

Nossos jeans rasgados e
nossos joelhos que se encostam e
a tarde que nunca envelhece.

A praça tá cheia de graça,
desgasta a lixa do skate.
Acende um Eight aí.
Me ajude a sentir seu gosto.

Já sinto saudade de agora.
Eu sei que é nostalgia.
Me ajude a te marcar
na minha história.

Eu digo que tô chapado,
falo errado, 
olho o asfalto esfriar.
Você diz alguma coisa,
outra coisa,
bla bla bla, sei lá.

Só sei que tô sorrindo e
você é o motivo.
Então vamos comprar mais um vinho
antes que a juventude acabe.

DISTANTES

Uma cidade inteira
não beira nem a borda
do que foi nossa amizade.

Postes com inveja,
com certeza,
secando nosso brilho
nos muros.
 
Ninguém mandou, 
mas você se foi,
mudou de canal.
Foi além da vírgula, 
do ponto final.

Uma cidade inteira e a 
chuva chorando chateada.
Chateado é pouco.
Movimento em repouso.
Às vezes sua falta me deixa louco.
Eu só queria mais um pouco
de você.

Mas se ainda pensa em mim,
sei que eu tô aí contigo.
Sempre estive.
É assim que se vive.
Lembrança que reprime
pedaços do agora,
pedaços afora,
lágrima que aflora.

Não estava na hora,
meu relógio atrasado
distraiu-se de amor.

E assim se foi.
E que assim seja.
Pro que restou,
resta apenas a cerveja.

O LITRO E A APOSTA

Quando acaba o litro
é que o riso fica solto
como a rua 
vira sua, 
minha,
nossa.

Minha nossa! 
São que horas?
Como passa depressa.
A noite é festa
de minutos
anfitriada pela lua.
 
Eu queria sua pele nua
na minha.
Seu corpo inteiro.
Fazer bem feito, e refeito,
peito com peito,
sem receio.

É que não sei se te amo
pelo resto dos meus anos
ou só enquanto
a gente vai se beijando.

Quando acaba o litro,
lá se vai o sentido.
Fico repetindo o que sinto.

Alma esplendorosa,
bunda maravilhosa.
Segura o cabelo pra botar pra fora
a mistura taciturna
do álcool com a aposta.

Apostou que aguentaria,
de copo cheio e garrafa vazia,
a vida 
e toda essa putaria.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

CREDO

eu acredito na bondade das pessoas.

no afago de um coração
estilhaçado.

no deus do adeus bem dado.

eu acredito na pureza dos olhos.
no abraço de reforço.
você é incrível
você é incrível e
não há nada que te arranque sua increvitude.

eu acredito em palavras que não existem
ou que existam apenas no silêncio.

...

(você consegue escutar o meu amor?)

há milagres esmagados na calçada,
reutilizáveis,
indecifráveis,
há milagres infinitos
no amar.

a beleza do mundo está no espelho.

O sol sangra ultravioleta
só para nos ver sorrindo.

eu acredito na bondade das pessoas.
eu sinto,
eu acredito mesmo,
com ou sem testemunha
eu acredito.
Acredito na bondade das respostas.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

O HOMEM E A ARANHA NO MEU VERSO

A aranha papa o dia da mosca,
eu papo meu dia à toa,
tecendo versos pro meu multiverso.

Você caiu na minha teia
mas eu não te comi.
Quem devora sentimentos
é o tempo, 
ele tem fome de tudo
que é da gente.

Devorou o que escrevi
sobre você
no bloco com capa de couro.

Quis me ensinar a caçar,
mas eu já caço sem parar.
Caço o que fazer e
quase sempre saio vitorioso.

As latas amassadas abrigam 
larvas, sonhos e comida de aranha.

Oito olhos e nenhum deles
pode ver o que iria acontecer.
A teia se desfez.
Recomecei os trabalhos.
Reciclei todos os planos,
principalmente aqueles
que incluíam você.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

3 x 0

Olhos secos. Mais cinco minutos. A quebrada dá os primeiros bocejos da manhã. Meu teto solta um bom dia e minha rinite traz o café da manhã. Pão de vento e café desidratado descafeinado. 

Prometi que acordaria cedo para tomar a dose de reforço. Menos fila. Menos gente. Quanto mais gente, pior. Poderíamos ter permanecido na água, dentro das estrelas, átomos soltos, livres e selvagens, mas teimamos em ser gente. E agora o mundo acende o cigarro com as próprias chamas. Ainda bem que parei de fumar. 

O inseticida questiona se devo realmente tomar a dose de reforço. Diz que minha garganta anda estranha, que talvez eu esteja com a doença, que talvez o sol exploda às três da tarde. Dou de ombros. Ele insiste, diz que 2 x 0 já tá bom. Respondo que quero ganhar de goleada, que se outros tivessem a sorte de ainda estarem em campo, fariam quantos gols seus corpos aguentassem. "Vamo lá tomar essa porra", eu concluo. 

Há três conjuntos de átomos teimosos na minha frente. Retiro "Crônicas de um amor louco" da bolsa. Não dá pra ler direito. Muito barulho, muita distração, muita ansiedade. 

O saco de átomos da minha frente pede para que eu o filme tomando a vacina com o seu celular. As enfermeiras riem. Eu também dou risada, mas por motivos diferentes. Todo mundo ri da cara de palhaço um do outro. O caos é nosso circo e o universo nos assiste comendo pipoquinha no primeiro assento. 

Tomo a dose, saio com o braço sangrando, a enfermeira me dá dois comprovantes por acidente, uma criança escorrega e derruba uma maca, um carro em alta velocidade atropela um pombo, um casal termina o namoro, outro casal mora na rua, garotas nuas dançam em volta de uma fogueira, Júpiter solta um peido, uma bomba explode na Ucrânia e o jogo continua rolando. 

Ainda não sabemos quantos minutos teremos de acréscimos.