domingo, 30 de agosto de 2020

UMA BOA QUINTA-FEIRA PARA SE ESTAR VIVO

Eu sou um dos maiores otimistas que conheço. Pode não parecer pelo jeito que me comunico através dos meus textos. Todos têm aquele gostinho de ódio, desilusão e abuso de álcool como sedativo. Não te culpo se você me acha um jovem ranzinza que não transa há tempos, pois há um pouco de verdade nessa opinião. É que esse meu lado reclamão é só superfície. Carapaça pra proteger o frágil inseto sonhador que reside no centro da minha mente. E por esperar o melhor de tudo, este mesmo inseto se decepciona uma vez após a outra. Eis que a carapaça surge; para não mostrar ao mundo que ainda tenho esperança. E muita esperança mesmo.

Estava andando pelo meu bairro e encontrei uma pequena praça secreta com banquetas e mesas de mármore. Escrito num pedaço de concreto no chão, estava os dizeres "Exclusivo dominó". Minha vila não chega a ser um exemplo de manutenção do patrimônio público, mas este pequeno lugar, limpo e conservado, construído com carinho pelo povo e para o povo... Bem, são nestas situações que meu otimismo almoça, janta e faz um lanchinho da madrugada. E mesmo que se destrua, que se vandalize; o importante é que construíram e que eu pude utilizar o espaço para beber uma latinha e escrever este desabafo.

Ao meu redor caem as folhas, silenciadas pelo som dos automóveis na avenida. Uma boa quinta-feira para se estar vivo. Uma pausa nas tragédias e desgostos e medos. O sol refletido no alumínio das janelas dos conjuntos habitacionais. E a paz que parece infinita ao mesmo tempo que preciosa e instantânea. Um sinal ao otimista de que realmente tudo ficará bem. Talvez já esteja. Pelo menos hoje, pelo menos agora. Sim, meu amigo, eu repito; é uma boa quinta-feira para se estar vivo. Uma boa quinta-feira.