Horas de leito em
relógios preguiçosos
e DOR.
Dia de sol e DOR.
Uma hora DOR.
Chuva, neve, DOR.
E DOR, DOR, DOR.
Até soar como outra coisa.
Até não fazer mais sentido.
Até nos deixar em
estado deprimido.
Minha vizinha sempre
começa a gritar às
8 horas da manhã
e DOR.
Sou uma criatura
de nervos destruídos
e DOR.
Teimoso na arte,
contra a maré azarenta
e DOR.
E DÓI, DÓI, DÓI.
Até virar um rosto murcho.
Até que se acostume.
Até que não doa mais.
Sempre volta, entre tantas
outras voltas.
E volto o filme
envolto em DOR.
Uma película repetida
aos alfinetes sobre o músculo.
Minha vizinha grita como
uma briga de gatos de rua.
Ela não sabe que isso
me incomoda.
Tomo um analgésico.
Digo "não" para meus amigos.
Agora uma britadeira
martela o asfalto e DOR.
Já me cansei da DOR.
Já me cansei.
Já me cansei da DOR.
Já me cansei.
Já me cansei DELA.
segunda-feira, 31 de agosto de 2020
DOR
domingo, 30 de agosto de 2020
UMA BOA QUINTA-FEIRA PARA SE ESTAR VIVO
Eu sou um dos maiores otimistas que conheço. Pode não parecer pelo jeito que me comunico através dos meus textos. Todos têm aquele gostinho de ódio, desilusão e abuso de álcool como sedativo. Não te culpo se você me acha um jovem ranzinza que não transa há tempos, pois há um pouco de verdade nessa opinião. É que esse meu lado reclamão é só superfície. Carapaça pra proteger o frágil inseto sonhador que reside no centro da minha mente. E por esperar o melhor de tudo, este mesmo inseto se decepciona uma vez após a outra. Eis que a carapaça surge; para não mostrar ao mundo que ainda tenho esperança. E muita esperança mesmo.
Estava andando pelo meu bairro e encontrei uma pequena praça secreta com banquetas e mesas de mármore. Escrito num pedaço de concreto no chão, estava os dizeres "Exclusivo dominó". Minha vila não chega a ser um exemplo de manutenção do patrimônio público, mas este pequeno lugar, limpo e conservado, construído com carinho pelo povo e para o povo... Bem, são nestas situações que meu otimismo almoça, janta e faz um lanchinho da madrugada. E mesmo que se destrua, que se vandalize; o importante é que construíram e que eu pude utilizar o espaço para beber uma latinha e escrever este desabafo.
Ao meu redor caem as folhas, silenciadas pelo som dos automóveis na avenida. Uma boa quinta-feira para se estar vivo. Uma pausa nas tragédias e desgostos e medos. O sol refletido no alumínio das janelas dos conjuntos habitacionais. E a paz que parece infinita ao mesmo tempo que preciosa e instantânea. Um sinal ao otimista de que realmente tudo ficará bem. Talvez já esteja. Pelo menos hoje, pelo menos agora. Sim, meu amigo, eu repito; é uma boa quinta-feira para se estar vivo. Uma boa quinta-feira.
domingo, 2 de agosto de 2020
SEM AMIGOS SERIA UM CU
Surpresa dispara, te para
na falha, fundo do poço.
Quem joga a corda, te acorda,
"vambora, segura aí mais um pouco"?
Vida em turbulência. Encrenca.
Te derruba e te arrebenta.
Ha! Sozinho cê não aguenta!
Solitude em ilha deserta
não leva a nada.
Robinson Crusoé montando
uma jangada porque
sabe que pra ser verdade
a felicidade tem que
ser compartilhada.
Tive muitas coleguices.
O número sobe com latas
tristes, roles esqueciveis,
ressacas invencíveis.
Colegas tem propósito:
primeiros socorros,
conselhos óbvios,
abraços ótimos.
Mas amizade eu conto nos dedos.
Pois foi no desespero, em pedaços,
que amigos me fizeram inteiro.
Já briguei várias vezes, ingratidão
fazendo festa na minha mente.
Já machuquei quem me cuidou,
me escutou, que me entende.
Mas essas pessoas insistiram,
sabiam meu valor
quando nem eu sabia e então
me ensinaram o que é amor.
Hoje, algumas delas tão distantes.
Bênçãos pra mim que seguiram
adiante.
A vida bifurca e todo presente vira
lembrança.
E num instante amigos vão.
Sentimento fica.
Tudo confuso sem pontuação
mas o baile segue,
a gente dança.
Brindando o tempo
enquanto ele avança.