sexta-feira, 29 de setembro de 2017

SÉRIO DEMAIS

Eu levo a sério tudo o que se passa,
mesmo escondido nas risadas e
nos convites.
É claro como tudo é nublado e
como não vemos nem a mão
que nos dá um tapa quando
levantamos da cama.
Dizem para eu não me preocupar, e
pra quê, não é?
Tenho quase mil amigos que
me curtem, me amam, me "Haha".
Não tenho demência o suficiente
numa calça rasgada ou num falso abraço.
Eu só fico ansioso, espremido no meu canto
como uma barata encurralada pela Morte,
a minha gata siamesa.
Palpitações entre meus dedos,
fruir os conselhos gastos,
lavar a louça, respirar fundo,
comer proteína.
Tudo não passa de uma piada
mal-contada pelos perdidos.
E é hora de trabalhar.

DOIS CIGARROS

Hoje eu abri meu maço e
só haviam dois cigarros.
A culpa é toda minha;
ontem estava chovendo e
eu costumo fumar mais quando
tudo é triste.
Um maço de cigarros custa,
para mim,
o olho do cu.
Não sei se pra você também.
Talvez.
Somos vítimas da situação em
que nos colocamos sem saber.
Como um incêndio causado por
um fósforo e uma garrafa de vodka.
Ou quando a pessoa te olha de volta.
Separei um para agora e outro
para emergências.
As palavras ficaram pulando de
um lado para o outro, rindo de mim,
enquanto eu tentava organizar
essas linhas.
Acabei fumando o último.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

BAD NA MADRUGADA

O silêncio rasteja debaixo da
minha cama.
E eu sinto minha pele como
brasa.
O que você sente no escuro?
Um pedido de socorro?
Eu tenho um propósito de
permanecer incompleto.
E permanecer cego quando os
demônios saem da sombra da
hipocrisia.
Tento não chorar porque é demais.
Eu sinto o toque, mas minto
tentando agradar a todos.
E tudo vai parar na minha cama,
com o silêncio em uma
posição confortável.

VIRANDO NA RUA

Onde posso dormir quando já está
tarde demais?
Talvez num copo meio cheio de
vinho que, longe do tempo,
envelhece bonito.
E não há escolhas quando as
folhas já estão morrendo no
chão.
É solitário não saber o quão
difícil é ter asas
queimadas por lâmpadas fluorescentes.
E não há escolhas quando
decido me vingar do destino.
Como num conto de fadas
mentiroso que te esfrega
a verdade na cara.
Como num solo de bateria que
termina a canção.
Como num meio-estado de
felicidade numa estrada.
Estou perto de me distanciar,
de deixar pra lá e só
rolar como uma pedra numa
ladeira.
Vou me esquentar hoje com
a dose cruel de realidade e indiferença.
Isso até que a estação de trem
abra novamente para o
meu mundo particular.

PAIS SÃO MESTRES

Meus sonhos são grossos demais
para a agulha que o diabo me deu.
Minha mãe me ensinou a amar e
eu sei o quão sortudo eu sou por isso.
Tenho palavras que posso gritar
ao infinito, porque minha sombra
prova para mim que a luz
ainda está no fim do túnel.
Eu posso ver o mundo ruir
em cada coração partido.
Minha mãe me ensinou empatia, e
como o filho pródigo está livre
para sair de casa e encontrar o lar
nas jaulas derretidas do acaso.
Meu sangue continua fluindo sem
ultrapassar meu limite.
Você pode vê-lo pulsar em
cada letra que o seu silêncio
é tímido demais para aplaudir.
Minha mãe me ensinou a cuidar
dos meus defeitos, mesmo
quando estou numa via de
mão-única.
Olhar antes de atravessar.
Ligar a cobrar para dar notícias e
subornar o ódio com abraços razoáveis.
E eu fico de joelhos e
agradeço por não ser cego o
suficiente para não sentir minha
fortuna.

XEQUE-MATE

Nós viramos a mesa
porque temos mentiras
debaixo da manga.
Perdemos a mente para
garrafas de plástico.
Amém.
Obedecemos nossos instintos
como os mortos obedecem
seus caixões.
Guardamos as histórias doentes e
cansadas numa cidade
apagada pelo excesso de luz e
propaganda.
Mandamos nossas visões para
o deserto de nossas mentes e
páginas em branco.
Porque as notas continuam
dirigindo a gente pelo vermelho
do asfalto, e nossas lâminas
não enferrujam abaixo da
superfície, e há muito desejo
para cumprir quando você é
peão e rei ao mesmo tempo.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

VONTADE

Quando o vento quebra e
não há mais nada para se dizer.
Quero sair, mas cansei de cair, de
ir cada vez mais pra baixo.
E eu já te disse isso, com
palavras talhadas no ferro.
E eu sei que foi um desastre
quando eu pedi pra você ficar.
É que estou fora de controle,
eletrificado, e o vento está
quebrando tudo lá fora.
E quer saber?
Vou sair mesmo assim, pois
juntei coragem o ano inteiro
com o troco dos meus erros.
E você não precisa vir junto.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

MAIS UMA HEINEKEN, POR FAVOR

Mais um trago indigesto,
e os nossos sonhos que descem
descarga abaixo.
Gostaria de saber se
todos sentem o que eu sinto.
Se tudo isso vale a pena, e
se essas gargalhadas são verdadeiras.
Eu sei que ainda não sou o que querem
que eu seja.
E não importa: o copo se enche
novamente, os corpos e as cascas
passam flertando com o vazio.
Os carros cantam música eletrônica.
A noite chega, a mesa está vaga e
nós somos felizes até o próximo
tropeço.
Até a próxima encarada no espelho.
Minha geração goza em máquinas.
O match é perfeito.
O cigarro vai queimando tudo, e
cada um segue sua vida,
crente de que estamos vivos.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

GATO MIA

Algumas vezes eu subo no telhado
com meus gatos.
A gente fica rolando nas telhas e
observando os pombos, as aranhas e
as moscas.
Gosto deles porque eles não reclamam.
Assim eu posso reclamar.
Digo para eles:
"Vejam só; estou enlouquecendo.
Estou perdendo a batalha
contra o mundo".
Um deles se esfrega na minha
calça preta e deixa
seus pelos dourados nela.
Outro começa a miar e o
terceiro lambe o próprio
cu.
Está de dia. Sempre está claro
quando eu me sinto
no escuro.
A vizinha observa da sua varanda, e
eu dou um "oi" pra ela e
ela entra correndo pra dentro de
sua casa.

domingo, 3 de setembro de 2017

FILOSOFIA DE CALÇADA

Senta aqui, vamos trocar uma idéia;
como na canção, eu sei
que às vezes uso
palavras repetidas.
Você sabe o resto.
É só olhar em volta;
Os saltos e os sapatos engraxados
com pressa de alguma coisa.
Fugindo do sofrimento como se ele
fosse a pior coisa do mundo.
Dá pra acreditar?
[Gole no vinho de três conto]
E nós estamos sentados na calçada
e os deuses devem estar com inveja
da gente.
Sim, eles sentem inveja porque
nossas bundas doem quando
ficamos sentados por muito tempo e
é isso que nos faz levantar.
E sabe o que mais?
Estamos virando robôs.
Estamos cada vez mais parecidos
com eles.
[O vinho acaba]