Você é desinteressante enquanto eu não enxergar arte em você. E não é só contigo; todo mundo é um saco de tédio na superfície. Veja bem, eu não estou louvando os artistas. Tem muito Zé-poeta por aí que é tão fascinante quanto a merda que eu deixei na privada hoje de manhã.
Sério, não puxe assunto comigo para saber onde estudei, onde moro, o que eu gosto de escutar. Pois eu não quero saber disso sobre você. Eu quero você andando na calçada, com pressa, pensando se trancou a porta de casa antes de sair. Eu quero você em um sofá de couro, fumando um provável último cigarro. Eu quero a sola do seu tênis entrando em uma biqueira.
Não me coloque numa conversa fútil; apenas deixe eu escutar seu sotaque de outro estado, seus lábios encostando num copo mal-lavado, seu olhar triste e cansado analisando meu rosto.
O que eu quero deste mundo não é físico. Isso é apenas sobrevivência, como almoçar fora ou fumar um palheiro. Não, isso é besteira. O que realmente me atinge é quando eu escuto "When the Levee Breaks" às 4 horas da manhã, depois de transar comigo mesmo. E eu sento na cama e percebo meu desinteresse com a rotina, com o papo furado, com suas realizações. O solo de gaita ecoa dentro de mim. Sinto os pêlos do meu braço se erguerem. Estou assumindo o meu "eu" que está pouco se fodendo pra você ou para o que você deseja de mim.
Não é que eu te queira mal; sou incapaz de prejudicar alguém conscientemente. Quando eu prejudico, é por simples acaso. Então não se preocupe. Só me mostre um pouco de essência para eu transformar este momento em uma pintura.
É só assim que funciono. É só assim que eu fico realmente de bem com a vida.
Todo o resto é atuação.