Quando você passa um tempo só, começa a se perguntar, a pensar, a filosofar sobre tudo o que te destrói. E vem a vontade de acender um cigarro, acompanhando um pseudo suicídio interno. Ficar inteiro é muito difícil, e boa parte do tempo eu procuro uma forma de ser mais parecido com o mundo.
Estou olhando a janela do meu quarto, e o dia que se estende lá fora. Começo a soltar bolinhas com a fumaça do meu cigarro. Elas são perfeitamente redondas e perfeitamente voam para fora do meu quarto. O contraste com a luz lhe dá uma forma sublime, quase uma dança, um strip cinza. Minha querida fumaça, me matando aos poucos como qualquer mulher pode me matar.
Decido me masturbar. Não é uma masturbação; é o que chamam de amor. Não estou só, afinal: veja como ela rebola na minha frente, encostando aos poucos na minha pele, habitando meu corpo de dentro pra fora e de fora pra dentro. Começo a trabalhar, e com o cigarro no canto da boca, baforo em cima do meu pau. A sensação é ótima. É melhor do que observar pessoas rígidas nas calçadas.
Quando estou prestes a terminar, tento gozar em cima dela, mas infelizmente minha ejaculação não sai forte o suficiente. O cigarro apaga. Eu me limpo com papel higiênico e ela desaparece entre o mofo das paredes. Todas elas vão embora um dia. Mas como a fumaça tóxica, ficam dentro do meu peito, me mudando para sempre.