segunda-feira, 5 de setembro de 2022

ESPANHOL

observava a tinta da parede
envelhecer junto aos meus sonhos
quando um homem passou
do lado de fora
falando em espanhol.
não vi seu rosto
sua alma
sua bunda.
só sua língua enrolada
falando "pero sí, pero no".
a porta da sala ocultou
sua figura 
agora tão misteriosa
quanto a própria morte
ou o amor pelas coisas.

é provável que nunca saberei
o que este homem
fazia aqui nas margens
da cidade.
é provável que ele nunca leia
meus poemas
e muito menos este daqui.

ele seguirá falando
mentiras em espanhol
sem saber que escutei
parte delas.
e eu
continuarei sóbrio
até a próxima rodada.