quinta-feira, 14 de maio de 2020

ARTE DO NADA

"Preciso botar alguma
coisa aqui".
Há alguns anos
venho dizendo isso
pra mim.
Um dia passa, e outro.
O tempo inteiro
dias ficam passando
pela mesma direção.
Eu os observo de dentro
da minha casa.
Nada pra falar.
Nada pra fazer.
Chove um pouco e
aí para.
O artista prepara o
pincel no branco e
no preto.
A vida já é a obra,
basta enquadrá-la e
revistar seus bolsos.
Quando nada acontece,
vem a Página em Branco, o
primeiro poema que escrevi.
Tenho escrito vários
nadas tão belos quanto
meditação.
Não há muita diferença
entre folhas de azedinho e
alguém de máscara
tirando fotos no espelho.
Bem, sei lá o que isso
quer dizer.
Apenas botei pra fora.
E continuarei botando.
Igual a uma
galinha mutante.