quinta-feira, 16 de abril de 2020

QUARENTENOU

Certo dia abri os olhos
e não pude sair de casa
porque não havia nada
além do Sol lá fora.
Acordei preso
comigo.
Preso em querer
ser outra coisa.
Jaulas camufladas,
asas em filetes.
Antes da pandemia
eu podia escolher
entre fugir da vida
acompanhado ou
fugir da vida
sozinho.
Agora há apenas
liberdade de escolha
entre venenos.
Escolhi guardar
tudo o que sou
na geladeira,
junto ao feijão.
Amanhã serei livre
como um vírus.