Espelhos gostam de
me botar pra baixo.
É por isso que faço
a dança do cachorro atropelado
e mostro meu dedo do meio
pra este idiota do outro lado
do espelho.
Eu o amo, entretanto, então
lhe compro o melhor maço
de três conto no boteco
da esquina.
Sexta-feira, Junho.
Na mesma rua, o mesmo
mercado e a mesma latinha,
só pra começar.
Logo alguém aparece.
Alguém sempre aparece.
Esse alguém vai dividir
um corote ou um cantinho
comigo.
Não vou lembrar do que
conversamos no dia seguinte,
e direi coisas pra este alguém
das quais já disse ontem.
Logo a rua lota;
tem que ficar bem cheia
pra me preencher.
No aconchego das noites fúteis,
passo despercebido como
a pena velha de um pombo.
Vale alguma coisa,
vale mais do que qualquer coisa.