Uma vez eu quis me espalhar
em pequenos pedaços de papel.
Larguei muitos futuros pra
fazer as pazes com o agora.
E eu larguei até
meus erros, meu jeito,
esboço frio da agonia.
Preto refletindo o escuro,
alastrando na retina
a convivência entre os planos
e os anos que vão passando.
No abismo eu encaro a carne,
poço cheio transbordando
o alarde dessas vozes
dizendo que é tudo engano.
Se não posso mais ser eu,
o que sobra disso tudo?
Sobra o mundo, o fundo,
o prato abandonado.
Bênção de ser humano,
Maldição de ser sagrado.
Covardia, despreparo,
amarrado ao agrado
de um outro ser humano
cheio de medo do palco.
Posso ser eu. Assim tá bom?
E você pode ser o que você é.
Desse jeito mesmo.
Nossas diferenças nos completam.
Posso me colar pelas ruas,
dizer o que penso e propagar
minha essência como um vírus.
Mostrar minha imperfeição e
o reflexo do que é sentido.
Larguei muitos futuros pra gente
poder se ver.
Agora basta abrir os olhos e
deixar fluir.