sexta-feira, 23 de outubro de 2015

PESSIMISMO APOCALÍPTICO

Então eu vejo uma terra seca
fome flertando com a sede
e caixas de papelão
abrigando um recém-nascido
vejo armas no rosto
de mulheres e seus filhos
bombas recebendo aplausos
idosos morrendo depois dos netos
a paisagem é vermelha
pintada em sangue
emoldurada com os ossos
de um salvador
vale alguns trocados
e uma pedra de crack
para você entender
o que caralhos está acontecendo



Afundo-me na cama
esperando os pesadelos;
o único momento onde
eu não me sinto louco.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

ALGUM MOMENTO NOSSO

Ele estava tão bem que mal conseguia apagar o cigarro. Tirou o próprio tênis e matou a bituca como se fosse uma barata perdida. “Morre, desgraçado! Morre!”, repetira roucamente com voz de doido. Eu balançava o seu ombro, gritando para ele parar de ser retardado, conseguindo (de forma muito a desejar) segurar a gargalhada iminente. Nós tínhamos apenas uma noite à mais, com uns punhados de sorrisos e umas doses de conversas profundas sobre a vida. 300 ml de vinho e 200 ml de uísque. Uma cerveja que mornava em qualquer canto junto à um violão que gritaria a trilha sonora daquela noite.

“Toca Legião”, alguém sugeriu. Era sempre Legião. E então todos uivaram (uns mais afinados que outros) sobre o que foi escondido e o que foi prometido.

Este momento eu nunca esquecerei. Talvez porque ali, naquela loucura, as coisas faziam sentido.

domingo, 18 de outubro de 2015

APROVEITE ATÉ OS DOMINGOS

O dia se esfolou numa garoa fina, daquelas que gelam as espinhas preguiçosas. O calendário do celular (modelo novo, coisa cara) marcava um domingo. David esticou-se na cama, os olhos grudaram por tempo seco. Sentiu, olhando para o cinza da janela, que seria um feriado de ócio. Há tempos David não vivia. Seu diário (um pequeno caderno de capa vermelha) era tão cheio de anotações quanto um cadáver é cheio de vida. Tentou escrever algo, mas de nada tinha para pensar; quanto menos para escrever. Anotou "Foda-se" caoticamente pela folha, com traços agressivos e um tom suicida, rasgando um pouco a página. Ouvira numa música que devemos nos perder às vezes. E ele amargava por isso ansiosamente. Sair pela estrada, num clipe de uma música alegre, sendo quem ele gostaria de ser, vendo cores pela paisagem vazia. O sol brilharia para ele levantar os braços e gritar que conseguiu o que queria.
Estava sentindo dores no peito há alguns dias. David morrera ontem.

EU SEI QUE É ERRADO MAS EU FAÇO

Tem algum sangue neste prato
Que eu não posso engolir?
Tem alguma história aqui
Que não deveria terminar?
Talvez uma suplica de um
Inocente solitário, no cárcere
Sirva a pele para enfeitar
Minha cultura de se mostrar
Mais chique do que o outro
E que não caia um, caiam bilhões
de cabeças degoladas em lágrimas
e couros esfolados
Para satisfazermos o pódio
Onde somos os primeiros,
Onde somos os melhores hipócritas,
os maiores mentirosos sujos
Porque enquanto eu grito
para que parem
eu continuo
evoluindo na cadeia alimentar.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

PÓS-FUTURISMO

Eram unidos como óleo e pipoca
Sentiam que não precisavam de nada mais
Como dinheiro, segurança, saúde, vento
cigarros ou vida
Eles poderiam queimar paisagens em velas
Ou da Lua sorrirem à Terra
Porque ostentavam-se
E todas as páginas anunciavam,

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confeitadas de curtidas fake
A simetria perfeita
Mas eram tão destrutivos, coitados ):
Dois furacões brigando por uma cidade
Acabaram que, de tão poderosos
destruiram-se em si mesmos
Vendo que a jornada
não é um sonho
não é um sonho
não é um sonho.
Wake up, e entenda que o amor <3
Não é luxo
É necessidade.