beleza, bota as cartas na mesa
tenho duas na mão
a do "foda-se"
e a da "sua opinião"
não sou meu pai, minha mãe
ou minha família
não sou os erros de quem me cria
não sou a merda da sua fantasia
sou a página em branco se preenchendo
com a minha própria escrita
já não me reconheci
de tanto tentar ser reconhecido
eu me remendei de personagens
sem sentir o menor vínculo
lamentando meus vícios
"apenas é o que tem sido"
eu sei que não sou
o que querem que eu seja
mas veja:
no meu espelho há sorrisos
onde cantam as gargalhadas
mesmo sangrando as farpas
ser eu, ridículo eu
dói menos que manter a palhaçada
de jogar as suas jogadas
neste jogo de falhas disfarçadas
beleza, tira as cartas da mesa
se for pra me encher
que seja de cerveja
se esqueça, nos esqueça
desapareça um pouco
em você mesmo
nunca é tarde e nunca é cedo
aproveite: ainda há tempo.