domingo, 20 de abril de 2025

SEGUNDA MÃE

nos dias em que meus pais
se ocupavam de trabalho
para serem bons pais
e minha mãe não tinha
onde me colocar
a não ser no coração
eu ficava contigo

quando os presentes eram poucos
quando não tinha almoço
quando eu ficava rouco
de saudade
você me botava na sua mesa
com toda tranquilidade
arroz, mistura, que beleza!

quando eu não tinha irmãos
você me deu dois
e depois da escola
a gente brincava de teatro
quintal de palco
cada peça uma história
que hoje me foge à memória
mas não ao que sou

esse meu caminho que trilho
tem como direção o seu carinho
é pelo seu amor que eu sigo
até por tempestades sorrindo
e se me falta o sorriso
no frio das escolhas solitárias
lembro do seu abrigo
e me fortaleço
porque você foi 
segunda mãe comigo.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

ODE À UM BOM AMIGO

se eu te sonhar
é como se
você não fosse embora

se eu te sonhar
mesmo quando a tela
escurece
você ainda esteve alí
alguns quadros pra sorrir
uma risada bela
daquelas
que plantam saudade

se eu não passar
por onde passamos
não dói tanto
não te acompanhar
pelos mesmos caminhos

eu me sinto
um pouco sozinho
quando procuro seu sorriso
nas piadas mortas
nas portas que não se abrem
trancadas com a sua ausência

se eu sonhar
toda noite com você
talvez nem dê pra perceber
seu adeus
este, que sem tempo
você não deu

obrigado, amigo meu.
muito obrigado mesmo.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

EU SINTO SUA FALTA MAIS DO QUE ME FALTA

algumas vezes lembro que estou vivo
sentindo de tudo mais um pouco
cada passo me imagina
numa noite estrelada

algumas vezes lembro que vivi
seus toques macios
no meu cérebro
cafuné nos cabelos da alma

da minha massa cinzenta
você fez um jarro
e se jorrou
até transbordá-lo

algumas vezes lembro que viverei
algo que não sei
quem sabe não é um encontro
daquilo que não se encaixa
que forma
as melhores silhuetas
ou pelo menos
as mais interessantes?

porque todos são perfeitos
só lhes falta
meu interesse
todos sorriem
e eu só sei
voltar aos meus vícios
e lembrar de você
quando acendo um cigarro.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

EU SEI QUE NÃO SOU O QUE QUEREM QUE EU SEJA

beleza, bota as cartas na mesa
tenho duas na mão
a do "foda-se"
e a da "sua opinião"

não sou meu pai, minha mãe
ou minha família
não sou os erros de quem me cria
não sou a merda da sua fantasia
sou a página em branco se preenchendo 
com a minha própria escrita

já não me reconheci
de tanto tentar ser reconhecido
eu me remendei de personagens
sem sentir o menor vínculo
lamentando meus vícios
"apenas é o que tem sido"

eu sei que não sou
o que querem que eu seja
mas veja: 
no meu espelho há sorrisos
onde cantam as gargalhadas
mesmo sangrando as farpas
ser eu, ridículo eu 
dói menos que manter a palhaçada
de jogar as suas jogadas
neste jogo de falhas disfarçadas

beleza, tira as cartas da mesa
se for pra me encher
que seja de cerveja
se esqueça, nos esqueça
desapareça um pouco
em você mesmo
nunca é tarde e nunca é cedo
aproveite: ainda há tempo.