segunda-feira, 25 de março de 2024

NA SOLITÁRIA (EU NÃO PRECISO DE NÓS)

fecho a janela para que não olhem dentro da minha casa
pra que não vejam o que tem dentro da minha casca
fecho a porta guardo as asas
dou meu peito para as traças

eu não preciso de ninguém
eu já sou alguém
que não precisa de ninguém
pois eu já fui refém
de precisar de alguém
e eu não preciso de ninguém
nem vem com esse "meu bem"
não comece se não for pra ir além

a gente tinha química
mas ela era física
não sei se isso explica
minha alma evasíva
o seu cheiro que me habita
me envenena me excita
me assombra me irrita
cê é o passado que limita
o futuro da minha vida
a teimosia da ferida
a brisa das minhas brisas
a fúria das minhas brigas
a corrente da minha cina
o silêncio da campainha
o motivo de todas as minhas 
vozes serem cínicas

já amei muita farsa
perdi de vista minha vista vasta
por isso me entrego ao meu nada
não há janelas na solitária

tampo as frestas, não dou mais trela
é só balela essa idéia
que a sua presença (ou parte dela) me completa
eu sou completo 
eu tô repleto de donzelas
de ferro

eu não preciso de você
(não mais)
eu não preciso de você
(jamais)
eu não preciso de você
(capaz)
eu não preciso de nós