tô suando tô morrendo tô pingando tô esperando
tô contando quanta gente tem na minha frente
quanta emergência aparece de repente
um louco convulcionando
por pouco
de doido não vira morto
o outro se tremendo todo
todo torto
segurando o telefone
dizendo pra filha
o tamanho da fila
e que agora piorou
é horário de almoço.
meu número não é chamado
o corredor tá vomitado
o banheiro tá todo cagado
um senhor orando desesperado
não é possível
os anjos estão atrasados
a menina chorando o estômago apertado
a impaciência febril de quem não foi vacinado
"a culpa não é nossa"
diz a enfermeira com o rosto suado
"é muita gente pra pouco contratado"
o médico que me atende, visivelmente, tá nervoso
não olha no meu rosto
o mal exposto
o corpo ardendo como fogo
eu sou só um número
depois de mim tem outro
uma receita, um minuto e pouco
saio do posto
sigo em frente
rezando como sempre
pra não precisar pisar lá de novo