sábado, 23 de março de 2024

NA FILA DO POSTO

tô suando tô morrendo tô pingando tô esperando
tô contando quanta gente tem na minha frente
quanta emergência aparece de repente
um louco convulcionando
por pouco
de doido não vira morto
o outro se tremendo todo
todo torto 
segurando o telefone
dizendo pra filha
o tamanho da fila
e que agora piorou
é horário de almoço.

meu número não é chamado
o corredor tá vomitado
o banheiro tá todo cagado
um senhor orando desesperado
não é possível
os anjos estão atrasados
a menina chorando o estômago apertado
a impaciência febril de quem não foi vacinado
"a culpa não é nossa" 
diz a enfermeira com o rosto suado
"é muita gente pra pouco contratado"

o médico que me atende, visivelmente, tá nervoso
não olha no meu rosto
o mal exposto
o corpo ardendo como fogo
eu sou só um número
depois de mim tem outro

uma receita, um minuto e pouco
saio do posto
sigo em frente
rezando como sempre
pra não precisar pisar lá de novo