sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

MELHOR É POSSÍVEL

minha alma tem pernas e joelhos ralados.
já chorou o remédio ardido no chão.
perdeu brilho e saturação
enquanto a fé não estendia a mão
para dizer que aquilo também passaria.

peguei minha alma e algumas cervejas
e troquei uma idéia com as árvores da praça.
elas questionaram meus arranhões.
disse que ser humano é ser machucado.
elas riram tanto que choraram folhas.

abri uma latinha e brindei com o céu.
seu azul não bebe.
suas nuvens bebem demais e vomitam chuva.

a minha alma deu uma gargalhada
e eu peguei outra lata
só pra não perder o vício.

sabe, tava foda.
não quis muitas vezes
essa coisa de vida.
ou melhor,
o jogo que vestiram nela.
sério, só gosto da vida
quando tiro suas roupas.
quando chupo sua pele e pelos.
quando durmo em seus seios.
todo resto é hipocrisia.

eu só quero que você saiba
que melhor é possível.
se a sua alma ralou os joelhos
ou se caiu numa fossa
ou se a merda toda tá pesada demais
segura firme.
um momento não é tudo, tudo são momentos.
seus piores abismos, um dia,
podem se tornar suas melhores piadas.

é como caipirinha;
o doce saturado do açúcar 
com o amargo do limão e da cachaça.
é o contraste que dá graça.

levantei e fui embora pra casa
rir das minhas desgraças passadas.
vamos rir um pouco, vai.
só mais um pouco
enquanto temos boca
e uma alma embriagada.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

um poema mal escrito

eu posso ser seu melhor amigo
pra vida inteira.
é só você não ser
uma pessoa cuzona.

é, eu posso brilhar e
fazer você brilhar tão forte 
que na madrugada
vão dizer que é dia.

sabe, não se esqueça.
não se esqueça.
não se esqueça de você
e de tudo o que você já fez
e tudo o que você já passou.
as bocas que você beijou.
as feridas que você curou.
aquilo que você desejou
e que no final alguém te trouxe
ou até mesmo
você se trouxe.

a gente tá vivo, porra!
a gente tá VIVO, PORRA!

por que a gente não vive
pelo menos uma vez?
por que a gente não deixa
de fazer sentido
pelo menos uma vez?

esse é o melhor poema que escrevi
porque eu já não estou mais nem aí
pra que entendam 
as minhas cores.

eu só quero é te ver feliz
nesse corpo que cê tem
tão maravilhoso
que te faz ser
quem você é.

eu te amo
pelo menos por hoje,
pelo menos agora
eu te amo pra caralho!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

LUZES

tô bem, tô bem.
meu sorriso preguiçoso
não está ajudando muito
e a fragilidade da voz
suspira derrota.
eu sei e sinto muito por isso.

às vezes parecer bem
dá mais trabalho
do que ficar bem.

caminhos alinhados impedem a passagem
das lágrimas.
não tenho o direito.
ficou tudo manso
depois da tempestade.
sou um bicho pelado
dançando nos escombros.

o ano vai acabar
e espero que o próximo
não acabe comigo.

achei que ficaria pior
mas descobri
que superfaturam
alguns sentimentos
ou o caminho até eles.

luzes novas brincando de piscar
se enrocando nas minhas risadas.
elas apagam e eu também
elas acendem e eu...

tô bem. 
é sério.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

SHOT DE POESIA 20

devolva-me aquele tempo
que não gastei comigo.
aquela parte que não me cabia
mas forcei meus buracos
pra caber.
aquele dia que eu disse
que não tinha nada pra fazer
mas eu tinha tudo,
todo o resto da minha vida,
a coleira da minha felicidade
e mesmo assim
botei a coleira em mim
e uivei pros seus problemas
a madrugada inteira.

SHOT DE POESIA 19

podemos melhorar o que somos.
mudar não.
posso ser um otário melhor.
um otário bem-sucedido
um otário mais saudável.
mas nunca vou deixar de ser otário.

de você
você não foge.

SHOT DE POESIA 18

beba a seiva amarga da vida
fazendo careta ou batendo na mesa.
recuse a felicidade obrigatória.
jogue fora essa história de plástico.
vire o copo.
vomite.
tente de novo até a última gota
rindo ou chorando com o átomo do âmago.

e então olhe pro espelho:
aí está alguém de verdade.

SHOT DE POESIA 17

um espetáculo:
o pôr do sol,
a infinita beleza do horizonte,
a pequenez humana ante tudo,
ouvidos serenos flertando a brisa

e você.

TRANSIÇÃO

o tempo nos caminha
nos passeia,
decora nossos corpos com rugas
e cicatrizes.
talha nossos corações,
um filete para cada despedida.

ninguém nunca é o mesmo.
até as estátuas queimam.
símbolos caem.
e eu raspo meus cachos
buscando as respostas
que já tenho em mim.

jogo fora cabelo morto e virgem
numa sacola de reciclagem.
dou um nó duplo
e sinto o vento na cabeça
como há muito tempo não sentia.