terça-feira, 31 de outubro de 2023

VOCÊ JÁ É O SUFICIENTE (ver. 2.0)

a voz na sua cabeça
vai dizer que não.

às vezes o que tá aí
entre o cérebro e a alma
não é seu
nem foi plantado 
pelas suas mãos.
é que no jardim da mente
é difícil apontar
os donos das flores
e das pragas.

você vai se cobrar.
é normal.
vai dizer que a vida é uma soma
que zera no final.
o importante é não esquecer
do seu valor único e infinito
como um sorriso que acontece
só uma vez no universo.

deixemos disso.
não grudemos mais coisas na gente
nos nossos nomes
nas nossas vidas
como se mais fosse sinônimo
de melhor.

você já é o suficiente.
vá viver sua vida
(o que resta dela). 

o que não deu, não deu.
um dia a gente se encaixa
no buraco certo.
ou então flutuaremos por aí
como um planeta ou
como o próprio sol ou, quem sabe,
como tudo o que existe

suficientemente
apenas sendo.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

QUADRADO CONFORTÁVEL

carinhosamente idiota
sigo não desistindo e
procrastinando afetos

fico no quadrado
ignorando o lado
que não conforta

tudo tão bem organizado
arrumando numa desordem
o motivo para continuar

estou chato demais para mudar
e acho que meus moldes endure
ceram ou talvez seja uma ques
tão de perspectiva. será poss
ível escapar de onde eu mesmo
me prendo?

SHOT DE POESIA #4

soltamos as mãos e
rabiscamos o coração
um do outro
com os cacos das palavras 
transparentes demais.

agora só resta
marcar uma consulta
com o tempo.

VELHO DESENCANTO (SHOT DE POESIA #3)

um sorriso verdadeiro
mofando na gaveta.
já não tenho paciência.
histórias repetidas
se cruzam nas mesmas ruas
se devoram nos mesmos bares.

a magia agora só existe em brasa.

SHOT DE POESIA #2

queria ser artista
mas só sabia fazer arte.

SHOT DE POESIA #1

laranja sabor fim de tarde
e eu parado
esperando já nem sei
mais o quê.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

EU SÓ SEI SEGUIR EM FRENTE

mesmo no escuro de mim mesmo
apalpo as paredes da vida
porque sei que há um céu azul
em cima de todo dia nublado.

erro e troco feridas 
até quando não quero
até quando não querem.
seu contador Geiger canta quando me vê.
fazer o quê?

eu só sei seguir em frente.

e os eclipses continuarão acontecendo
a gente estando lá para vê-los
ou não.

enquanto construo faíscas num incêndio
os outros pulam fogueira
porque suas felicidades
são suas responsabilidades.

mato uma garrafa e tento esquecer
da gente
disso tudo.
mesmo no escuro do futuro
me apego em algo que já estava aqui
em mim
antes mesmo de eu vir.

tomo um banho gelado.
suturo meus machucados.
eu só sei seguir em frente.