segunda-feira, 3 de maio de 2021

GOSTO DE ERRO

Enquanto tento fazer
alguma coisa de útil
com os pensamentos
compulsivos,
um pernilongo
fica zanzando,
cantarolando
no meu ouvido:
"Você não presta
pra nada.
Você não presta
pra ninguém.
Tá aí tentando
fazer sentido.
Mas não há sentido,
meu bem".

Enquanto raspo os olhos
nas mesmas paredes,
e todo o dia
vai morrendo,
o pernilongo faminto
perfura o vão
entre meus dedos.
"Você não presta
pra nada.
Você não presta
pra ninguém.
Fica remoendo
o passado
ansiando
ano que vem.
Mas não tem como escapar
da picada do tempo.
Seu sangue tem gosto
de erro.
Não vai dizer que não avisei:
seu sangue tem gosto
de erro".