sexta-feira, 31 de julho de 2020

REBELIÃO É SORRIR PRO CAOS

Acorda! Acorda!
Sorrisos suplicam a saída
pelos seus dentes
(ou pela falta deles).
Você não percebeu?
Que dentro de você
há necessidade de
deixar esse peso de lado e
pular pelado na piscina
mesmo que numa
noite fria?
Há pedras e areia
nos sapatos de todo mundo
com sorte de ao menos
ter um calçado.
Sofrer é padrão de fábrica,
característica intransponível.
Sorrir é uma escolha um tanto idiota.
Mas dá uma olhada lá fora
e me diz se tudo isso
não é uma palhaçada?

Ah, puta que pariu,
ACORDA! ACORDA!
Nos deixaram essa vida
com prazo de validade e
queimaram as instruções.
E se tudo for inútil,
abriremos nossos braços com
uma gargalhada,
mostraremos o dedo
e gritaremos aos deuses
"ISSO É TUDO, PESSOAL?"

domingo, 26 de julho de 2020

É A ÚLTIMA VEZ QUE BEBO

Eu bebo. Muito. Muito mesmo.
Só que álcool é uma agressão
ao corpo.
E hoje eu acordei
feliz por conseguir comer
uma torrada sem
vomitar minhas tripas.
Ontem tive a pior
ressaca da minha vida.
Tudo de uma
inutilidade absurda.
Como se eu mastigasse
flores e depois as cuspisse e
então as mastigasse novamente.
Chegar a ficar bêbado
e depois sóbrio.
Repetir.
Sóbrio e depois coxas bêbadas
voltando a lugar algum.
Um ciclo infinito de
dormência e ansiedade.
Como se eu não existisse.
Meu corpo inteiro dói,
meus joelhos doem
de tanto eu me agachar
na privada.
O preço por querer
facilitar as coisas.
Por querer fugir,
por não gostar de mim
o suficiente para me esfregar
na cara das pessoas.
Ontem eu tive essa ressaca,
tempo nublado
dentro do estômago.
O melhor que pude fazer
foi dormir.
Jogar fora um dia inteiro
da minha vida.
Hematomas mentais
sobre a luz de domingo.
Eu sendo vítima de mim.
Mas hoje saiu um sol
bem tímido.
Acho que mereço
um pastel
pelo menos.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

ODE AO ÁLCOOL

Os melhores momentos
da vida são quando
você se dissolve nela.
Como açúcar na caipirinha.
O álcool facilita o processo.
É por isso que eu bebo.
Um instrumento de estudo.
Uma ferramenta que,
se tudo der certo,
ficará obsoleta.
Eu bebo pra fugir correndo
do bicho papão
do pensar demais.
Na terceira latinha
tudo começa a ficar mais leve,
e o fato de eu estar trancado
em casa, com medo do
mundo, batendo minha
testa na porta do meu quarto,
passa a ser uma piada.
E quando digo que a
vida em si é uma piada,
é de uma profunda seriedade,
constantemente estudada.
E...
Ah, eu perdi o foco.
Você nem leu até aqui.
Ou leu?
Eu não leria.
Tenho coisa melhor pra fazer
além de ler poesia alheia.
Como por exemplo:
comprar mais um
litrão de 6 conto na padaria
aqui da esquina.
6 conto só num litro de breja.
Cê acredita?

quarta-feira, 15 de julho de 2020

NA CAMA EU RESOLVO

Colchão torto, coluna
em dobras e ângulos
maléficos.
Todo problema do mundo eu
guardo na gaveta das
emoções reprimidas.
Na cama eu resolvo.
O colchão entortou porque
dormi por muito tempo na
mesma posição.
Agora não há posição alguma
que seja adequada.
Com o corpo em ziguezague,
nu,
tento me masturbar.
Antes era mais fácil arranjar
uma companhia.
Não sei bem o que ocorreu.
Lembro de algumas bocas
que já me chuparam.
Misturo-as com as bocas que
eu gostaria que me chupassem.
Gozo.
Líquido platinado escorrendo
pela minha barriga.
O papel higiênico tá acabando.
O colchão treme grita geme.
Fico mole, olhos pesados
até mesmo pro escuro.
Todas as questões da
minha vida eu
deixo escorrer pelo ralo
do disfarce.
Então as renovo ao meu
travesseiro, de vista pro teto.
E se você tiver um problema,
junte-o com os meus,
por algumas horas.
Torne-se mais uma boca,
um cu, arranhões e mordidas.
Me ajude com essa
porra toda que ando acumulando
dentro de mim.
Melhore minha noite que
eu te farei esquecer do
seu dia.
Provavelmente.
Na cama a gente resolve.

terça-feira, 14 de julho de 2020

A EMOÇÃO DA CACHAÇA

Um copo, nada de mais.
Outro copo, sorrisos aparecem
sem convites.
Dois copos, a sinceridade
começa a escapar no meio de
algumas frases.
Três copos e o corpo de repente
está num lugar e aí no outro também.
Cinco copos e nada faz sentido.
"É a sequência de Fibonacci!
É a sequência de Fibonacci!"
Ninguém entende, ninguém liga.
Lágrimas, rosto vermelho.
"Ninguém entende minhas
emoções, eu odeio este lugar do caralho!"
Punhos aos ares, desafinados.
O homem que mal consegue
ficar em pé parte para as
ruas mal iluminadas da quebrada.
"É a emoção da cachaça", diz
outro homem, de canto, para
seu melhor amigo de hoje.

CRESCER

Amigos antigos envelhecem
em boletos, filhos e casas e
obrigações.
O mundo de ponta cabeça,
certo e errado misturados
no meio do caos.
Luzes apagadas em
ruas solitárias e
Luzes acesas onde
a atenção é inútil.
Amigos que crescem
antes de você,
uma criança que
vive fazendo arte.
No papelão do menino,
embaixo de mil sorrisos,
depois de décadas
com a alma em prejuízo,
está escrito:
"Você quer um poema?".
Ainda é cedo pra deixar
isto de lado.

TRABALHANDO HOJE PRA RESSACA DE AMANHÃ

Olhos cansados rolando
pros lados, tentando acompanhar
a vista fugaz da janela
do trem.
Bocejos incontroláveis seguem
esticando os músculos
da face.
No relógio, as horas adiantadas
porque o alarme se atrasou.
Os pés exaustos, ossos da perna
roidos.
Bem que este assento poderia
ficar vago.
Bem que poderia ser a folga,
cadeira de boteco.
Olhos indecisos banhando-se
em diferentes litrões,
em diferentes nomes de pinga.
Trabalhando hoje para a
ressaca de amanhã.
A voz no falante anuncia
a última estação.
Todos se empurram apressados.
E alguns agradecem por
tudo isso.
Alguns realmente agradecem.

terça-feira, 7 de julho de 2020

QUESTÕES NA ESTRADA

Você pode tentar
numa viagem inteira
achar respostas.
Não te deram as perguntas certas.
Não nos deram tempo
para questionar.
Mas a estrada continua
além do nosso ponto de
parada.
E já tá anoitecendo, meu bem.
Você pode tentar
numa noite inteira
achar respostas.
Momentos diferentes
requerem mais que isto.
Você já tem o que é preciso.
Não se preocupe.
Não há dúvidas no infinito.
E já tá anoitecendo, meu bem.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

DOMINAÇÃO

Não se pode controlar
um gato.
Não tente.
Engula essa ingenuidade e
deixe o resto na areia.
Gatos pularão telhados
até o fim do mundo.
É paixão, vida e morte
com quatro patas
(conheço um que tem três).
Gatos abandonam
corações roidos
com mais frequência
do que outros
corações roidos.
Não se importam com isso.
Há vacinas, coleiras,
quartos, grades e fogueiras.
Nada disso o fará
mais seu do que
dele mesmo.
Como as outras coisas.
Ah, as outras coisas...
Quem não fica insano
ao morar com um gato
ou está bem preparado
para o mundo
(mais do que posso compreender),
ou já se perdeu nele
há tempos.