Trens. Muitos trens.
Boa parte do tempo,
um poeta estará num
transporte público
pensando se deve ou não
vender suas poesias ali.
Não conheci poetas de carro.
Não conheci poetas saudáveis.
Poetas de carro novo e saudáveis
geralmente trabalham na Globo,
e aí o termo fica subjetivo.
Muito tempo em
ambientes fechados.
Isso ajuda na percepção
da vida. Quanto mais deturpada e
negativa for a percepção,
melhor o poeta.
Por isso que existir é uma merda.
Volta pra casa no trem.
Cuidado com o vão entre
você e seu sonho.
Cuidado com a sobra
do dia seguinte.
Cuidado pra não ser
quem você odeia.
Alguns poetas se feriram tanto
que mal conseguem manter
contato visual.
Estão sempre de canto, tentando
perceber o que há de interessante
nas pessoas.
Vivem acumulando falhas, erros.
Pensam demais.
Gastam toda sua energia pensando.
Não sobra nada pra socialização,
a não ser que estejam bêbados.
Aí param de pensar.
Fica mais fácil ouvir as mesmas
coisas de novo e de novo.
"Manda um poema aí!", diz
um macho otário.
O poeta encara o chão,
dá um gole no corote e
vai embora pra casa.
Quase perdeu o último trem.
terça-feira, 26 de novembro de 2019
COMO VIVE UM POETA
quinta-feira, 7 de novembro de 2019
INTROVERTIDO
Algumas nuances você
só percebe
com um bom fone de
ouvido,
num ambiente
silencioso,
numa boa perspectiva de
vida.
Mas há uma sociedade
lá fora
que precisa do seu
corpo e
das suas mentiras pra
servir
de capacho.
Desculpe.
Eu fico meio estranho
quando passo tempo
demais em casa.
É que não tô afim de
conversar.
E quem não fala,
escuta.
Não tô afim de
escutar também.
Parece que competimos
pra ver quem fala mais
só pra não ouvir
a merda saindo da boca
do outro.
É por isso que pessoas
quietas
parecem tristes;
fique algumas horas
calado,
no meio de gente,
e tente ser feliz.
Eu só sei que tenho
bons fones de ouvido
no meu quarto.
E conheço um site que
converte
vídeos pra MP3.
NÃO ENTENDI O QUE EU QUIS DIZER
Tenho nojo do ralo da
pia.
Dos restos de comida e
da água que não desce
o cano.
Tenho desejos simples e
ambições impossíveis
ao mesmo tempo.
Enlouqueço só quando
acordo.
Sinto meus lábios
suados
desejando o açúcar de
um novo café.
Rastejaria até o meio
das pernas de qualquer
alguém que me
quisesse.
Só penso em foder e
aí eu me fodo todo
o tempo inteiro.
Vou suturar meus erros
e
fazer deles um casaco
de pele.
E se me procurarem,
estarei diluído por
aí, num trem
ou numa alameda,
cantando o hino do
planeta.
UM POEMA BOM
Uma frase boa pra me
tirar daqui.
Uma dose doida pra
extrair ao fim.
Veja: cimento debaixo
dos pés e
o céu sobre um nada.
Uma balada boa pra
fortalecer a farra.
Um dogma novo pra
falecer na garrafa.
Estamos cansados de
sentir,
não de viver.
É que pra estar vivo
deve-se
sentir; são ossos do
hospício.
Um amor platônico pra
me
matar aos poucos.
Um ofício novo pra me
juntar aos loucos.
Concreto acima dos
anjos e
o céu de portões
fechados
por falta de santos.
Um poema bom pra
empurrar
tudo isso daí.
Uma promessa boa
que eu traí.
Saúde!
UM, DOIS, TRÊS, TESTANDO
Então testei, tentei,
fiquei mais triste com
menos e
menos feliz com mais.
Minha mente elétrica,
inquieta,
gosta de passear em
você
às vezes.
Quando tento fazer
alguma coisa
com esse saldo de tempo
e tédio, lembro que
antes não era
diferente.
É que a gente sabia
que
acabaria. E por via das
dúvidas,
deixei as últimas
palavras
pro começo.
Um, dois, três,
testando.
Um, dois, três,
testando.
Espero aos berros que
seja
sincero de agora em
diante.
Espero no inferno,
ardendo
na brasa do ferro que
seja
inteiro de agora em
diante.
Mas quando tento fazer
alguma coisa
com os cacos que
sobraram de mim,
monto apenas figuras
distorcidas
e apáticas.
Então testo, tento e
fico
na mesma.
Um, dois, três,
testando...
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