terça-feira, 13 de agosto de 2019

FUMANDO UM NO BAR

Eu passo o beck pra alguém
no minuto que vem, sem que
ninguém diga alguma coisa.
Fico com cara de trouxa,
pensando de boa:
"que caralhos tô fazendo aqui?".
Ela ri. Diz que fui eu quem
acendi, e agora passa a
fumaça pelo pulmão como
oxigênio pelo nariz.
Ah, acho que já fumei demais.
Tenho mais pessoas pra
conhecer e mais coisas
fúteis pra fazer até a galáxia
se desfazer.
Agora não é hora de ser
um buraco negro na
vida dos outros.
Recuso a ponta e ela me afronta
e pede pra por na conta
mais um litrão.
É... realmente não quero deixá-la.
Mais um copo e eu vou embora.
Mais um copo pro mundo afora.
Mais um beijo que demora e que
eu queria agora.
"Tudo bem", digo a ela,
"mas o próximo você bola".

BEIJANDO NA FILA DO BANHEIRO

Descobri a insanidade
dentro de lábios que
babavam os meus.
Vejo o efeito que um sorriso
pode causar numa pessoa e
não é à toa que a hora voa e
toda coisa boa pode caber
dentro de um simples abraço.
Vejo o traço bem gasto
sobre a vida triste que marcou
seu rosto.
Não chore, não tema mudanças,
não desperdice uma dança.
Apenas continue me beijando
até esquecermos do que
estamos nos queixando e,
sério,
tô cagando pro resto do mundo.
Descobri a insanidade aqui
nessa fila de banheiro, sem dinheiro,
o momento certeiro que nos
deixa livres para
sermos quem somos.
Então que sejamos!

TENTATIVA E ERRO

Eu tento ser normal pra
me encaixar nas peças
adjacentes, mas a figura
como um todo não me
parece lá essas coisas.
Pelo menos não enquanto eu
vejo a foto do país.
Eu quero ser diferente,
me expressar com cada
meia que eu visto e
com as jaquetas
da minha mãe e
com o colar da minha amiga.
Eu gosto do estranho,
das entranhas que emanam
e não enganam a ninguém
com contas fakes ou
stories planejados.
Eu fujo do óbvio como
o diabo foge do sóbrio.
Fico eufórico só de
pensar no óleo da minha face
sobre o bico do seu seio esquerdo
(fugi do assunto porque estou
sedento por sexo).
E sim: quero foder esse teu corpo.
Me crucifique. Sou tão mortal
quanto a fé ou seus bisavós
ou a folha no outono
ou o sol daqui alguns anos.
Sou tão mortal e tão normal
que eu desejo coisas simples e
idéias que insistem,
brizas que persistem,
poemas que irritem
aquele que deu palpite.
Eu tento ser qualquer coisa;
nada me apetece.
Só me deixe dizer mais,
até eu calar a minha boca.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

COMO AMAR ESTRANHOS

Olhe no espelho, ame o reflexo.
Saia de casa e ame
o dia, seja ele qual for.
O dia em si, incluindo os
fios do poste e o choro mimado
da criança com sono.
Sem amar essas coisas,
é impossível amar alguém.
Sua cortina estava manchada
nos cantos e as flores
na jardineira morriam.
Mas sem foder a mente por
pelo menos um minuto,
não consigo ficar são.
Olhe a casa e imagine o
que está acontecendo lá dentro.
Você poderia ser alguém ali.
Esqueça, e continue seu caminho.
Pegue um transporte público
e sofra coletivamente.
Empatia através da dor, do aperto.
Você amará estranhos quando esquecer
seus vícios, quando escutar suas vozes
mentindo e contando histórias e
chorando e gargalhando.
Você amará estranhos até morrer.
Até que o sol exploda e leve
tudo consigo.
Você vai fugir de estranhos, e
isso também vai passar.

SEM CRUSH

Me apaixonei pelo espaço
na minha cama e agora eu
não quero que ele vá embora.
Mas toda relação é benta em lágrimas.
Enxugo meu rosto e seco a garrafa.
Acho que tô cansado de
abrir minha carteira todo dia e
trancar meus sentimentos
numa gaiola invisível.
Sem crush, sem dor.
Mas olhar pro espelho e
só ver a ti mesmo, com a cara
de um manequim sem rosto,
também é doloroso.
É que tá difícil de confiar
na minha confiança, nas
pessoas passageiras que
querem comprar um assento
vitalício no meu trem da despedida.
Tá difícil de encontrar
“não sei o quê” em “não sei quem”
(nem em mim eu encontro).
Sem crush, sem cores.
Preto e branco na página virada.
O que escrever nas próximas?