quinta-feira, 20 de setembro de 2018

NO ESCURO

Eu estava cansado das lâmpadas
mas não sabia disto.
Num dia, minha vida acordou chata.
Procurei nos livros, no café, na
televisão, nos bueiros e em todo
canto um quê para deschatear tudo.
Saí de casa e começou a chuva.
Chuva com vento.
Molhei-me pra sentir algo.
Tédio.
Fui até uma amiga e a luz
havia acabado.
“Eu adoro ficar no escuro com as
pessoas”, eu disse.
“Oshe”, ela disse.
Olhávamos a vela queimar, e era
chato.
O fogo era chato, a cera era chata,
ela e eu éramos chatos.
Voltei para casa e havia luz.
Entrei no meu quarto, tranquei a
porta, quebrei a lâmpada.
No escuro você (só) existe.
E existir é legal pra caralho.