quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

QUANDO O PERFEITO NÃO DÁ CERTO

Eu não te agüento mais,
mas eu te amo e vou amar
enquanto minhas vísceras estiverem
encaixotadas dentro de mim.
Suma da minha vida, mas por favor,
faça um café antes de ir e
me dê dois beijos.
Não me olhe assim, com essas
esferas úmidas de água e sal,
eu te imploro.
Vá, abra a porta, deixe-a aberta pra
quando você for voltar.
E você vai voltar.
Eu quero que você volte.
Mas antes evapore mais rápido do
que essa água que estou fervendo
para fazer a macarronada que você gosta.
Você me deixa todo lambuzado de
confissões e sentimentalismo clichê.
Você é a pior benção da minha jornada.
Te amo, e

um dia as coisas serão melhores do que isto.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

O HOMEM E A BICICLETA

Um homem pedalando na
chuva, as gotas pesadas sobre
o aro enferrujado de sua bicicleta
sem marchas.
E eu o vejo pela janela da sala
“O que esse cara tá fazendo?”
Percebo o esforço extraordinário
por uns 5 metros de asfalto d’água.
“O que esse cara tá pensando?
Talvez ele seja a persistência
em forma humana. É, talvez
seja isso mesmo.
Ele tá gritando para eu não desistir,
Ele tá gritando para eu continuar pedalando,
mesmo na chuva, mesmo quando
as coisas são difíceis. Apenas vá.”
Era uma tempestade, uma
rajada de vento cortava as poucas
árvores da rua.
E ele ali, em cima duma
bicicleta,
sumindo da minha vista.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

CARNAVALISMO

Os ossos exalando o perfume da rua
e o bloco dos desabrigados.
É a folia das multidões,
os foliões metidos em suor
cantando e agarrando e estuprando
e esfaqueando e
todo mundo dança a mesma música.
Mas deixe de ser ranzinza.
Deixe de reclamar, pelo menos hoje, e
venha com a gente!
Não, obrigado, meu carnaval é
toda vez que leio o Buk.
Não há nada de mais em curtir, eu sei
mas curtir não é lá uma das minhas
lutas preferidas.
E os banheiros lotam, as calçadas sujas e
todo mundo dança a mesma música.
Alguns dias ininterruptos, os ventos abraçando
os braços erguidos e aquela garotinha que
bebeu demais.
Perdeu a carteira e um pouco da dignidade,
mas ninguém aqui é realmente digno a ponto
de julgá-la.
É carnaval, e todo mundo diz para você
se divertir, e
todo mundo dança a mesma música.
Sei lá, prefiro primeiro arrumar minha casa,
que está toda em CRISE, e depois eu arranjo
uma boca.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O QUE DEUS FALARIA PARA VOCÊ CASO FOSSE UM ESTRANHO NO ÔNIBUS

Vai, diz aí qualquer coisa.
Tô te dando a chance de um poema.
Vai, seja interessante, tire a gente
deste tédio infinito.
Quantas linhas são necessárias
para alguém se tornar herói?
Diga um número, pode ser qualquer um.
Te dou quantas linhas você quiser.
Apenas seja bom.
Apenas seja imprevisível, como
uma aranha no canto da janela com
suas teias bem-feitas, esperando as
moscas pousarem.
Ou a lata que acaba do nada
A arte do nada,
música clássica e
três loucos usando LSD,
lambendo o chão e olhando o espelho.
Vai, alguém aí se habilita?
Alguém se habilita a pensar mais,
a pensar menos,
a pensar na medida certa, tanto faz.
Raspar o cabelo, autenticidade,
fingindo ser areia entre os
vãos da mediocridade e do medo,
tão rara quanto ver o nascer do sol,
embora ele nasça todo dia, mais de
trezentas vezes por ano.
Quantas linhas são necessárias?
Quantos dias são necessários, para
você ser uma pessoa agradável?
Ou então pra você ser desagradável,
e sair da merda deste celular maldito
(antes disto curta este poema)?
Vai, vá escalar o Everest,
tropeçar nas escadas,
dizer "oi" para estranhos,
antes que os vermes suguem sua
juventude, morta em cada hora,
em cada tempo e espaço.
As cinzas não viram mais fênix,
tá tudo tão morto.
Quantas ressurreições são necessárias?
Vai, diz aí qualquer coisa.
Tô te dando a chance.
A única chance.
A última chance,
toda vez que você precisar.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

AUTORRETRATO

Sabe, eu escrevi essas palavras e
elas não são boas o suficiente pro
público.
Então essa minha voz interna diz:
“Nossa, assim você vai estragar tudo”
Pois bem, eu salvo o poema
num documento chamado
“NO ESCURO e outros poemas”.
Mas a arte é uma coisa interessante, não?
Porque eu sinto que estou dizendo
para alguém que nada vale a pena realmente.
É um niilismo meio suicida.
Eu releio o poema, e gosto dele.
Gosto da sonoridade dele,
gosto dos seus dentes amarelos e
da pança branca, e dos braços finos e
o nariz desproporcional, lotado de
cravos. Gosto de como este poema
largou a faculdade e o emprego.
Gosto de seus 24 anos e
nenhum livro publicado.
Gosto da forma como ele aborda
outras pessoas na rua.
Gosto do quarto deste poema, e
dos pais dele, e de toda a família.
Gosto da forma como ele pensa,
como ele trata seus amigos.
Eu gosto dele.
Gosto muito.
Talvez, quando este poema
“botar a cara no sol”,
Alguém seja louco