Vai, diz aí qualquer coisa.
Tô te dando a chance de um poema.
Vai, seja interessante, tire a gente
deste tédio infinito.
Quantas linhas são necessárias
para alguém se tornar herói?
Diga um número, pode ser qualquer um.
Te dou quantas linhas você quiser.
Apenas seja bom.
Apenas seja imprevisível, como
uma aranha no canto da janela com
suas teias bem-feitas, esperando as
moscas pousarem.
Ou a lata que acaba do nada
A arte do nada,
música clássica e
três loucos usando LSD,
lambendo o chão e olhando o espelho.
Vai, alguém aí se habilita?
Alguém se habilita a pensar mais,
a pensar menos,
a pensar na medida certa, tanto faz.
Raspar o cabelo, autenticidade,
fingindo ser areia entre os
vãos da mediocridade e do medo,
tão rara quanto ver o nascer do sol,
embora ele nasça todo dia, mais de
trezentas vezes por ano.
Quantas linhas são necessárias?
Quantos dias são necessários, para
você ser uma pessoa agradável?
Ou então pra você ser desagradável,
e sair da merda deste celular maldito
(antes disto curta este poema)?
Vai, vá escalar o Everest,
tropeçar nas escadas,
dizer "oi" para estranhos,
antes que os vermes suguem sua
juventude, morta em cada hora,
em cada tempo e espaço.
As cinzas não viram mais fênix,
tá tudo tão morto.
Quantas ressurreições são necessárias?
Vai, diz aí qualquer coisa.
Tô te dando a chance.
A única chance.
A última chance,
toda vez que você precisar.